sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Rede de vizinhança

 

Dei apenas uma volta e ao dobrar a esquina topei com um paredão de concreto armado, com aparência de um mosaico com variada forma construtiva, colocado lado a lado tornando o espaço uma assombrosa divisória de cimento e ferro.

Fico imaginando o propósito da inusitada muralha. Talvez uma competição de quem consegue se sobrepor ao outro, tornar sua identidade famosa, abrigar mais espaço interno do que seus comparsas ou até quem sabe tenham tido todos a sensação de segurança em tempos difíceis, ou se apoderar de uma facilidade para vigiar a vizinhança que somente um amontoado incrível de prédios de todos os tamanhos pode oferecer, afinal ali se encontra sacadas, janelões que devassam os ambientes, coberturas a céu aberto e jardins coletivos. Tudo pronto.

É de se imaginar em qual janela o sol baterá primeiro, qual veneziana se abrirá ao olhar do mundo que congrega aquele circuito diferente e em contrapartida, o que e quem estará à espreita do recém chegado aos primeiros acordes do dia. Uma batalha de aberturas se entrega à faina dos olhares avizinhados numa fúria avassaladora de espreitar tudo e todos.

Acredito que esta exaltação da visão de grupo virá acompanhada pela imediata busca das telas de todos os tamanhos e tipos com uma sofreguidão de eternizar a hora e empanturrar a mente com todas as letras minúsculas e maiúsculas que anda circulando nos cabos invisíveis do universo.

Nesta maçaroca de vida não há espaço para o sol e a lua serem percebidos mansamente, não há recinto físico para que a brisa da floresta, do mar, do rio, do lago permeie por ali, o perfume da chuva na terra jamais conseguira galgar os degraus do amontoado de prédios sem alma.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tem gente demais neste mundo!

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