domingo, 11 de junho de 2023

Derrubada

Derrubei a história que estava contida há muito tempo dentro desta garrafa que levei até a beira mar porque, ao contrário do que eu havia imaginado, ela parecia ter se dado por vencida, e, fracassada em sua mensagem arrombou a rolha que lhe estancava o conteúdo precioso de outrora e se espalhou desordenada pelas areias úmidas da beira do mar desejando que as ondas viessem ao seu encalço e tragasse para a sua profundeza letra por letra, ponto por ponto. 

Havia ainda a questão do sentido intrínseco da história abatida que surpreendentemente insistiu em manter-se por ali, negando-se a desaparecer como se não houvesse existido, afinal, não é eliminando letras, verbos, consoantes, preposições, ponto e vírgula que se apaga um significado que já criou asas e trilhou seu caminho enquanto mensagem, já atravessou mentes heroicas, covardes, ignorantes e inteligentes, já se expôs ao ridículo e ao sucesso, já se recolheu e já tornou a se manifestar. 

O impasse estava criado quando a maresia correu em auxílio da história que teimava em não se evaporar criando uma bruma tênue e acolhedora e deste modo singular o teor se aninhou. 

Resolvi aceitar o desafio de rever em que período aquela mensagem havia se esvaído de si mesma, em que momento aconteceu a retranca do pensamento, em que ponto a história perdeu seu rumo chegando ao extremo de desejar se esvanecer nas areias da praia, mas, quase que imediatamente percebi que a conjunção de esforço no alinhavo do palavrório não se apaga assim facilmente porque o pensamento expresso possui vida própria atravessando com pertinácia a gangorra da vida com grande probabilidade de ser tão ou mais atual do que o próprio tempo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom dia.VeraRenner parabéns e obrigada por partilhar conosco mais uma de suas maravilhosas crônicas.amei e já compartilhei pq acredito que trabalhos desse nível devem ser compartilhados com o máximo de pessoas.

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