sexta-feira, 15 de abril de 2022

A Paixão de Cristo

Ele vem resplandecente para a circunstância que se apresenta carregando em seus ombros magrelos tantas ofensas, tanto desprazer, mal feitos, ataque à sua própria carne com a traição rondando sua sombra nas beiradas de sua vida peregrina. A difícil caminhada culmina no fim da trilha, repleta de desconversa, de amor e ódio atravessando muralhas de ocasião.

Eis diante de Deus Pai um corpo com a carne dilacerada, com veios de sangue que lhe cegam o olhar, com uma magreza de causar dó e assim também os filamentos de tortura que não estancam enquanto vivo ele é. A fronte, que deveria simbolizar a ternura infinita pelos seres humanos se dilacera em mil pedaços rubros de tristeza, que um tanto sem jeito vão se acomodando pelo corpo em sofrimento, mas em nenhum momento se apartando dela. Por entre todas as feridas ele podia ver que sua missão estava cumprida e seu corpo oferecido em sacrifício é a paga pelos pecados da humanidade.

E como se assim não bastasse, o corpo que se esvaía de vida estava ladeado por dois seres que de algum modo não seguiram a cartilha que lhes foi oferecida, enquanto ainda havia salvação da alma. No entorno ecoava blasfêmias de todo o tipo, mas apenas um dos transgressores aproveitou a última oportunidade para a redenção.

Talvez houvesse nesta alma desviada algum conhecimento de quem era o pregador que instava à sua frente, concedendo-lhe a absolvição para poder então viver uma vida eterna. Quem sabe este súbito arrependimento se esconde no mais recôndito espaço de sua mente, quando, ao invés de correr para ladroagem resolveu estancar o passo ao pé da montanha e ouvir as palavras do Peregrino que era seguido por milhares de fiéis. A semente foi plantada na alma do pecador, brotando no último instante para que o Filho de Deus fosse reconhecido e mais uma vez, em um último suspiro, buscasse a absolvição.

Este fim de caminho foi costurado com fios resistentes como a personalidade de Cristo que em sua passagem predestinada a salvar a humanidade, ora permite que sua vida seja ceifada, embora prometendo que voltaria. E então, no terceiro dia após sua morte, vestido com brancas vestes e com todas as suas feridas cicatrizadas, ele rasga a atmosfera e sobe para se sentar a direita de Deus Pai. Aleluia.

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