Ando de boca fechada por aí
sem poder conversar com o mundo através de um sorriso simples, um trejeito
amistoso com a cabeça, uma gargalhada bem dada e assim, maneteada pelo
algoritmo que determina com detalhes minuciosos quem te lê e quem te vê na foto,
resolvi, além de calar a minha voz, vendar o meu olhar e dei adeus às imagens
do mundo exterior. Ficarei na companhia do vento, ora forte ora fraco, da
maresia, dos aromas de comida e da natureza, do tato e, claro, das topadas nos
móveis – poucos - como se não bastassem as da Vida.
Decidi que por um tempo
indeterminado não me interessa quem irá passar pela minha frente. Animei-me,
uma vez que aqui está a oportunidade de no escuro enxergar melhor o que anda
desfilando diante de mim na luz. Com os olhos vendados não sofro a
interferência do externo e as lembranças assomarão à superfície. Mas, passar a
limpo está fora de questão porque ao se entreter olhando para dentro o espírito
vai fazendo uma seleção natural do que nos faz, ou fez, bem.
Vale lembrar que o que eu
preciso agora é de acontecimentos repaginados com o pincel da essência da minha
alma que irá determinar os entretons originais que por ventura estiverem
esmaecidos na memória. As lembranças acontecem de assalto e agora, vendada, o
contexto vai se alternando sem que o fio da história se apresente. Não existe
lógica – nem algoritmo - que consiga estabelecer os retratos que vão passando
na claridade da escuridão. O conforto e a quentura de ensimesmar-me, juro, não
tenho coragem de negar.
2 comentários:
Parabéns Vera Lúcia. Fez pensar. Um abraço!
Ensimesmar-se às vezes é a única saída, é como colocar a si mesmo dentro de uma caixinha de joias da alma. Beijos , Vera, bonito texto.
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