terça-feira, 16 de junho de 2020

Coração partido



Os mil pedaços estão ali espalhados pelo chão como se fossem cacos inconsertáveis de algo que ocupou por pouco, muito ou por toda a vida uma alma que agora sangra ao perceber que talvez todos os seus esforços foram em vão para manter no bate pronto os amores dentro do coração, símbolo físico do afeto. Não foi por falta de aviso. Enquanto tudo indicava para um fim desastroso foi a obrigação de cumprir ritos que maximizou a desgraceira. Ou pior: vislumbre ilusório de uma situação como se assim fosse possível parar o tempo.

Ficou fácil escolher aquela estrada ladeada por canteiros de flores as mais diversas. Eram tantos os formatos e matizes que cresciam e se emaranhavam promovendo uma visão idílica que não se percebia os perigos ocultos de sair do caminho apontado. Porém ali estavam eles fardados de espinhos pontiagudos, seiva venenosa e insetos ocultos, prontos para revelar seu mal se fossem desafiados. Bem assim. Mas, o que os olhos não veem o coração não sente.

A montanha nem parecia ser tão íngreme olhando do sopé e assim, com equipamentos emocionais enfraquecidos se vai aquela alma quase penada lomba acima em busca do sonho de amor. Vale lembrar que na mochila rota e murcha se acumulam desilusões e foram ali colocadas para ser um norte, um exemplo, para a próxima tentativa de amar. Na primeira parada, por causa do peso, a mochila é descartada e com ela o rico histórico que lhe salvaria de nova desilusão. Pois ora veja, novamente surge o imponderável: o que os olhos não veem o coração não sente.

O mar aberto, com todos os seus mistérios cantados em prosa e verso estava ali, sempre à disposição para receber qualquer tipo de coração aberto ao amor, dos mais felizes aos mais desgraçados. Todo santo dia as ondas vem lamber as areias e, principalmente, as feridas de quem se desiludiu, de quem vem juntar suas lágrimas ao oceano, de quem prevê que orando para Iemanjá seu destino amoroso vai mudar. Diante da imensidão do mar e dos seus segredos profundos, tudo é possível, até iludir-se. O que os olhos não veem o coração não sente.

Um comentário:

m.reginasouza68@gmail.com disse...

É, para alguns a busca do sonho do amor é como o trabalho de Sísifo...

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