Encontrei a carta no meio de
um livro, destes que a gente tem uma vida inteira e volta e meia folheia
como se fosse a primeira vez. A carta foi escrita em computador já há um tempo
e havia sido impressa. Não estava envelopada, porém, estava amassada e parecia
ter sido socada nas mãos com certa fúria ou desespero, tal sua aparência, mas
por fim foi alisada e dobrada com cuidado marcando uma página de um livro de
contos e crônicas.
Abri com certo cuidado
porque, juro, eu não lembrava de tê-la escrito. Não havia data, não rescendia a
nenhum odor que a levasse a mim, apenas algumas traças tinham concluído seu
trabalho e eliminado a pontuação, o que poderia alterar, e muito, o
significado.
Antes de deitar os olhos ao
conteúdo dei tratos à bola para trazer de dentro de mim a lembrança de tê-la
redigido. Porém, logo desisti da ideia porque seria mais proveitoso e assertivo
terminar com esta duvida, ler o conteúdo e jogar fora se não me dissesse coisa
nenhuma ou cair de joelhos frente a algo que eu havia esquecido. Por bem ou por
mal.
Encorajada e já um pouco
impaciente com a duvida sobre o que ali estava escrito fui abrindo a dita cuja
e comecei a ler. O texto grafado era sobre um fim, um estado mudo e uma partida
para nunca mais voltar. O que mais me surpreendeu foram as metáforas utilizadas
para a redação deste importante documento e creio que o designado poderia não
entender patavina.
Ao concluir esta análise lembrei-me
do fato e também do subterfúgio que utilizei para, de certo modo, não me fazer
entender. Lembrei também que eu não
havia conseguido colocar no papel os meus sentimentos, logo eu, que não me
importo de me afogar nas emoções. Iniciei uma nova missiva dizendo para mim
mesma que a escreveria “com o fígado” e comecei assim:
“Tenho duvidas se vais entender, mas não tenho duvidas do
que eu vou escrever...” comecei mal, desisto. A carta foi para o lixo.
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