A ventania litorânea anda me empurrando para
onde não quero ir nem me pagando, com rajadas tão extremadas que atrapalham as
minhas escolhas e assim fico eu em círculos tentando minimizar os estragos no
meu íntimo, é claro. A opção que se apresenta em dias assim reverte para tudo o
que não é relevante, como andar por ai a caça do que não é necessário para
preencher um espaço que existe ficticiamente na cabeça de uns e outros, mas não
na minha. Corredor nenhum irá me atrair,
nem mesmo as magias propagadas em alto e bom som por todos os cantos. Resisto
ao impulso de me unir à manada que perambula pelas ruas em blocos e decido que
farei um percurso de compras dentro do circuito que me abriga das loucuras da
época e da faina do tempo que parece andar um pouco furioso. A natureza também
não anda a fim de mim e decide não me receber em seus braços, nem o sol, nem a
praia nem o canto de grama de que me apoderei. Assim me lanço às compras de
última hora.
Inicio na prateleira dos livros fazendo um recall
nos títulos e ao organizar o organizado percebo que alguns títulos me soam como
novos ou de certa forma, deslidos. Encantada com a aquisição, capricho na
retirada do pó e de algumas traças e os levo para minha cabeceira. Pronto: a
parte intelectual da loucura de obter já está estabelecida e a curiosidade de
perpassar letra por letra de histórias que não lembro mais me deixa bem feliz.
O mesmo acontece ao abrir de par em par meu
armário que exibe vestuário de primavera/verão e com surpresa ao examinar cabide
por cabide dou-me conta de trajes que estavam fora da minha agenda diária.
Fiquei pensando o motivo e percebi que a idade anda me deixando mais esperta
para o figurino e assim, fui me esquecendo de roupas com elástico, golas altas,
jaquetas apertadas, calças cigarrete e cintos torturantes.
Tratei de dar um belo destino ao rol de peças que destoavam do meu ânimo e
passei para frente – no capricho – meus vestidos longos, meus shorts
customizados, minhas blusas fartas complementando o meu novo look
com as pashminas de todas as cores que resistirão bravamente aos
ventinhos de verão por aqui. Mais uma compra realizada com sucesso, assopra meu
senso de organização.
Assim com muita atenção fui analisando o
entorno para ver se havia algo que precisasse ser renovado dentro da minha
cabeça. Parece mentira, mas me dei conta que as composições que estabeleci no
organograma da casa estavam funcionando muito bem e me aguardando para a rotina
do dia e o descanso da noite. Encerrei minhas compras imaginarias. Até o próximo
Natal!
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