sábado, 23 de junho de 2018

Solstício de Inverno no Praião

Foto Vera Renner - Beira Mar Capão da Canoa - RS

Identifiquei-me com este guarda-sol tão bem amarrado na beira do mar, talvez porque ele esteja encerrado dentro de si e proibido de espiar as ondas sem se dar conta. Foi fechado para balanço, foi amarrado para não precisar proteger ninguém, foi excluído de dar amparo a quem dele necessita, foi interpretado como inútil neste solstício de inverno.

A verdade é que existe uma paradeira no ar, uma menção da natureza de pouco deslocamento onde se pode aproveitar para pensar, para analisar, para reformular e para ser, quem sabe, mais assertivo no propósito e menos ágil na ação. A luz reflui como uma benção ao espirito como se de fato fosse urgente a precisão de dias mais curtos e noites mais longas porque só assim a escuridão vai se transformar em renovação, ao invés da percepção de que escureceu e vamos enxergar o que até agora nos foi tapado.

Acredito que os avisos vêm nos detalhes das idas e vindas, da observação delineada, nas nuances da troca do calor pelo frio que afeta nosso olhar que ora vaga solto e sem determinação, ora se apruma para enxergar o que para a natureza se faz óbvio.

Assim ressaltamos nosso espirito praieiro que nem bem os olhos se abrem e já se deitam para o lado do mar, para sentir a temperatura, para ver se está mais calmo ou mais furioso, se o sol veio para derreter ou para simplesmente acelerar os plantios da estação, se o vento veio cantar a ermo ou se veio para se divertir no embaraço dos cabelos de todos e mais um.

Faz parte do acordar se certificar que a praia esta no mesmo lugar, que as plantas brotaram inequívocas de sua missão, que os pássaros cantam talvez com uma rouquidão dengosa, que os passeantes trotam com galhardia na ventania, na neblina e no areal salínico. De certo modo andamos amarrados pelo gelo, mas nunca sem ter a visão de mesmo assim o movimento continuar e a reza por dias mais quentes seguir firme e forte.


4 comentários:

Anônimo disse...

Rogerio Antonio Teixeira
Como é fascinante ler um texto de conteúdo, onde a língua portuguesa é respeitada e dignamente utilizada na transformação da palavra em pensamentos e sentimentos.

Anônimo disse...

Kettielem Jacques
Lindo! Externado o sentimento e o movimento existente em nós, moradores privilegiados da beira mar

Anônimo disse...

Duledo Gomes
Beleza de texto...

Anônimo disse...

Claudio Almeida
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