quarta-feira, 11 de julho de 2018

Vida digital



Não foi um dia qualquer este, no qual assoma ao recinto plácido de quem se recupera de dores – pode ser da alma ou nem tanto - com mensagens imprevisíveis adentrando sem permissão a vida digital, essa cachaça que não tem hora nem lugar para ser oferecida, sequer ficando corada pela invasão. Afinal, o passado se apresenta sempre em luz difusa, de fatos e lembranças.

Ali se configurou sem cuidado que havia uma história, para um, mal contada e de outro lado muito precisa de detalhes, de argumentos, sentimentos e desejos permeando as lembranças deixando no ar um perfume que poderia ser sentido como real. Para um. Não para outro.

Pode-se afirmar que o tempo passado em anos estava naquele momento levando um choque de saudosismo e tudo o que se soletrava parecia se tornar real no momento propicio, no dia morno, ensolarado e de preguiça do corpo. Só do corpo porque cabeças velhas pensam de trás para frente e de frente para trás com lucidez indômita.

Havia ali uma luta para recriar um idílio e fazê-lo novo em folha, buscando de qualquer maneira descrever os acontecidos, burilar suas imagens como novas, proporcionar uma chance de vida, buscar no desespero da lembrança uma esperança colocando em luz encontros, uns mais picantes e outros nem tanto passando por situações pueris e que de tão românticas – vistas hoje – se tornam quase incipientes de valor.

Não dá para relativizar a importância porque assoma à lembrança risadas apressadas, provocações juvenis parecendo uma medição de forças de corações apaixonados. Nesta circunstância havia o impasse de um e outro quando as forças traziam à tona irrelevâncias e outro as considerava de muita importância, gerando um clima de clara tentativa de revisão, mas de distintos modos. Provavelmente seja verdade que o esforço de buscar o que ficou para trás não tem futuro porque o mundo girou e a percepção torna impossível a volta.

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