O final do ano sempre chega cheio de
expectativas, repleto de sorrisos e de boas intenções, deixando de lado tudo o
que de ruim houve no ano anterior. O acordar na véspera já parece ser um
sintoma de boas novas, de que tudo vai ser diferente, os olhares se enviesam
para o destino escolhido mesmo que esse seja o trabalho, pois adquire novas
cores e emoções.
Se o vivente tiver a sorte de escolher sua
sina, ótimo, mas se ele já vem cravado como tarefa a ser executada é certo que
por ali irão também fartar alternativas para festejos. É hora de sorrir, dizem
alguns, e assim todos os com ou sem dentes abrem-se em sorriso sem nem bem
saber por quê.
Parece mesmo que o ar, o clima, a aragem, o
vento morno, o sol menos denso, se reúnem para facilitar a ilusão de ano novo
que vem chegando sem ninguém solicitar, que atropela quem ainda tinha algumas
contas a saldar do ano anterior e que frente ao “rush” da vida joga para frente
de supetão as alternativas que recém foram pensadas.
E é deste jeito bem afoito que se arrumam as
regras para o que vier, sem nem mesmo reparar se no traseiro do destino existe
algo ou alguma coisa para dar uma carona. O novo ano vem aí– dizem todos – como
se fosse uma repetição, um mantra, uma prece que desviasse a atenção para o
agora, para o momento que antecede todas as previsões. Essa ode ao que virá
retira maldosamente de todos nós a tentativa de viabilizar uma simetria entre
pensamentos, amores, perdas, família, amigos e renovação.
Mas melhor pensar no coletivo que anda dando
as regras por aqui, e então arrumem-se os fogos, as taças, as bebidas, os
quitutes, as fantasias, os brilhos e os laços porque com júbilo ou sem ele o
ano vira, e, com certeza é esta fé que movimenta os astros e que fazem a dança
das estrelas na hora da virada. Tudo será diferente mesmo que tudo fique como
está.