Acho que fiquei assim com a mão estendida,
não por acaso, porque sempre que a possibilidade de algo que me agrada aparece,
lá estou eu na primeira fila, esquecendo as tantas ocasiões em que me defrontei
com uma expectativa com perna de anão. Sempre esqueço esta parte porque além
das minhas mãos, o meu olhar anda sempre por aí, errante, e então é óbvio que
tropeço no inverossímil, no causo perdido que só vê quem não quer, no olhar
ladino que para mim parece apenas uma falta de vergonha passageira, uma dose de
humor negro, uma assertiva que desprezo por não ter consistência para mim
naquele momento ou por constrangimento de responder a uma audácia.
E foi com este caminho mal andado que fui
passando a mão por cima dos detalhes minúsculos que sobreviviam no dia a dia e
passavam por mim como pequenos meteoros, que tão rápidos e brilhantes iludiam
completamente, como se fosse uma cauda solar que ofuscasse e assim se instalava
a perigosa expectativa de enxergar mudanças importantes, antes mesmo que elas
viessem a bailar comigo.
Como alçar voo ao desconhecido com tanta
distração pela frente, com um entorno desigual, que promete muito, mas não
entrega e seu alcance surge contaminado, ladrilhado de promessas insuspeitas. Aparentemente
tudo escorre pelas mãos que, sedentas na construção do novo, se enganam redondamente
na avaliação e com este destino montado, a decepção vem se enganchar e é neste
momento que a tentativa de separar o joio do trigo acontece usando, mesmo que
tardiamente, o critério de pé atrás com os personagens.
Parece que os talentos para perceber a
armadilha deixada na passagem não são de fácil compreensão e o modo de seguir
em frente, sem ter as mãos solapadas vai ficando bem difícil, até que um dia,
do nada, a mente clareia, os olhos se arregalam e os sentimentos começam a ter
menos drama e mais verdade. Para acompanhar o ritmo, as atitudes se abrem mais
ainda com a certeza de que vai colher o certo, não vai apontar para o suspeito,
não vai buscar a amizade onde não existe, não vai acenar para quem não
corresponde. Neste dia as mãos espalmadas se colocarão no ar com a simplicidade
de quem agradece.