Apurei meus sentidos porque no ar havia tanto
silencio que imaginei estar, sabe-se lá, em outro plano, mesmo que meu corpo se
fizesse presente, mas, claro, não completamente. De certo modo eu planava no
mutismo regulamentar da rotina que agora demanda muitos olhares ao entorno,
dissecando o que envolve o corpo físico com tanto esmero. Afinal, em terras regadas
pelo oceano, a existência é tão mutante quanto, rebelde quanto, instável quanto
e dependente o máximo do clima. Tudo sempre envolve o sol, o vento e o mar e
desta feita transformei-me numa criatura que tem a cabeça tão envolvida com o
oceano que me fica difícil pensar em outros termos.
A comparação neste dia foi irrepreensível já
que meus ouvidos ainda repercutiam os ruídos da cidade grande, meu nariz estava
em apuros por conta do ar rarefeito, meus cabelos demonstravam certa rebeldia e
secura que acontece nos grandes centros, minhas pernas doíam por tantas
ladeiras acima galgadas, meu olhar ainda refletia o caos urbano e foi com este
feitio que me achei em meio ao silêncio obsequioso desta natureza que não
consigo mais parar de falar.
A cada volta percebo que o meu ouvido ficou
tão afinado que vai embalando os sons de um modo peculiar, quase viciado em
filtrar o que desejo ouvir para que assim se restabeleça no meu íntimo o
silêncio reparador que necessito para ter a mim mesma de volta, para poder
celebrar todas as canções, para poder abrir os olhos e enxergar o mutismo por
vezes melancólico da natureza que se reverencia a si mesma sempre que melhor
lhe aprouver.
Um comentário:
Excelente texto. Amei Verinha. O silêncio e o mar são os grandes mestres. Beijo.
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