segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Banalidades


Essa daí me acompanha dentro da minha cabeça, desde os quinze anos, porque mesmo que eu não me tenha utilizado de sua serventia como hoje o faço, ela certamente surgiu em minha vida para que agora, no ir dos anos, se defronte a mim com certa nostalgia, mas muito mais como um desafio, tenho certeza. Não tem a menor importância que esta máquina da foto seja apenas uma ilustração saudosa, anterior a mim, que possua um design requintado, uma erudição que faz baixar a cabeça, que o seu som reverbere como musica amada e antiga, que demonstre sua linguagem cadenciada que fatalmente obedece aos trancos do coração e alimente as melhores fantasias em paredes mais antigas e talvez ancestrais.
Pasmem, com ela se escrevia e se imprimia ao mesmo tempo, um perigo para quem tem a cabeça cheia de caraminholas e urge coloca-las no ar. Um mínimo pensamento e lá estão elas materializadas como se as ideias estivessem predestinadas a se tornar realidade desde o seu berço. Não há deletar no seu menu principal e penso que, antigamente, servia para pensar melhor antes de cravar uma frase, olhar para o horizonte, inspirar qualquer ar, relutar frente alguma preciosidade e então medir o que o nosso pensamento estaria a abordar, o que de tão urgente fazem os dedos martelarem em teclas perfeitas.
Parecia, naqueles tempos, que o desperdício de papel iria denunciar nossa incompetência, nossa incapacidade de conjugar todos os verbos com perfeição, que seria impossível lacrar os sentimentos mais ditosos que pudéssemos ter e mais do que tudo, dar vida ao que nos vai por dentro. Escuro ou claro.
As máquinas evoluíram de tal forma que escrever, corrigir, mudar de ideia, apagar, ir e voltar se tornou de tal forma banal e efêmero que modernas telas recebem qualquer bobagem, qualquer mal escrito, qualquer infâmia, qualquer opinião sem que os autores tenham um mínimo de visão critica de si e do entorno.


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