Mais por costume do que por
vontade própria a distância faz esquecer um pouco de tudo ou de tudo um pouco,
não havendo mais nenhuma sanha, não lembrando fosse o que fosse se espichando o
despudor em deslembrar. Fica para trás o tormento insistente da mente
descontrolada, da emoção que finca pé e a todo o momento vem ofertar a
imprecisão e o descaso.
O vazio se instala soberano
e não aparece nem em sonhos os desejos antagônicos, os suspiros profundos, os
olhares apaixonados e muito menos os seus sujeitos. E assim vai seguindo de
cabeça feita e do avesso buscando novos feitos para contrapor o deletado,
preenchendo o que ficou em branco pesquisando no entorno novas histórias,
reescrevendo o passado.
As cartas na mesa estão sem
naipe e não significam nenhum traçado futurístico, não anunciam o novo amor
aguardado, não mostram o caminho das pedras nem apontam para o tesouro perdido.
As duas pontas se afastam
tanto que parece impossível reatar ou reaver qualquer coisa e então, desta
feita, acontece o encurtamento das distâncias destituídas do seu maior poder: o
esquecimento. Os segredos guardados aparecem com lucidez e nova serventia, se
revelando aos poucos fazendo todo o sentido. Com este pano de fundo serpenteado
de surpresas a orquestra ensaiada se refaz com seus instrumentos no lustro e
afinados na proposta de manter em alta o tempo perdido.
No atraso da vida perdem-se
detalhes, escondem-se minúcias, esquecem-se situações ou jogam-se fora
impulsivamente tantas histórias que agora precisam ser recontadas e trazidas à
tona com o olhar do novo.
E assim foram restauradas
todas as falas, os olhares se cruzaram tantas e tantas vezes que se acostumaram
rapidamente com a linguagem muda do dito não dito, todos os sorrisos se arrevesaram
em gargalhadas preenchendo os instantes com muita sonoridade e assim a rota foi
retomada, desta vez com ares de para sempre.
Um comentário:
Parabéns Vera. Muito bom. Abraço.
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