Nunca pensei que haveria de cair no mesmo erro, de
falsear o pé e me ver na beira do abismo, com todos os gigantes olhos me
olhando de baixo para cima, rindo da minha cara e de dedo em riste parecendo dizer,
eu te avisei.
Claro, que se eu tive algum vislumbre de lucidez, ele se
fora na instantaneidade que a novidade te dá e a esperança fornece, pois a cada
dia em que o sol nasce tudo se transforma e lá vamos nós como guerreiros
ensangüentados e maltrapilhos em busca da ilusão, do oásis, que com certeza
fica logo ali, pensamos repetidamente. Logo ali.
Mil coisas me passaram na cabeça e a primeira delas é que
os tempos de calma haviam chegado e assim cavalgava acelerada na minha
maturidade e me orgulhava da minha clareza e todo dia a folha branca que me
aparecia era preenchida. Então, estou andando bem a par e passo.
O desaviso me rasgou por inteira, lavrando o que eu tinha
de melhor, deitando por terra a confiança que eu acreditava viver e neste
momento, tenho as pontas dos pés beirando o vazio do mundo.
Um vazio, infelizmente, preenchido pela prepotência
mascarada de elegância onde nas entrelinhas surgem a falsa modéstia, a inveja e
o falso poder. Um espaço oco recheado de artimanhas torpes e deboches muito bem
articulados.
Meus pés deslizavam com suavidade para baixo e para cima,
deitando seixos na fundura do precipício e com meu corpo oscilando ao vento
naquela beirada, ouvi alguém me chamar, surpresa, me equilibrando, dei
meia volta. Este alguém era eu.
4 comentários:
Perfeito, querida! Só quem pode nos tirar da beira do abismo somos nós mesmos. Ele é a margem do que somos!
Concordo com Andréia.
Concordo com Andréia.
Vera, um dos textos mais bonitos, embora possa ter esquecido o que senti com alguns antigos. Uma introspecção que não busca fora a energia de que precisamos. Beijos. Maria Rosa
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