domingo, 25 de agosto de 2013

Intenções



Tenho a bússola com o rumo apontado para aquele curso e por mais que eu alongue o olhar não consigo enxergar o que fazer para chegar tão longe. É o que dá se atarefar tanto  deixando de lado o alimento da vida que é a mudança, o sonho e a expectativa. Podemos criar algumas, renovar outras, mas jamais deixar de tê-las. Com o olhar fixo, ainda estou em mar aberto flutuando numa calmaria dos  oceanos das histórias antigas, apenas com a vela, me faltando motores para me arrancar dali.

Tenho consciência de que eu sou o próprio motor, mas acho que perdi o jeito de dar a partida. Aquela capacidade de acertar o prumo, arregalar os olhos, baixar a cabeça e seguir para o norte que a vela enfunada aponta. Sorrindo, um pouco entesada e divertida.

Em que maré me perdi de mim, em que ilha larguei a mochila onde eu guardava meus apontamentos da vida, meus escritos de sofrimento e minhas lembranças que teimam em queimar meus neurônios bem na hora em que o sono chega para lhes dar mais saúde.
Em que onda joguei meu charme e qual pescador recolheu meu aceno de bom dia ao se largar mar adentro, e,  por pura diversão carregou junto com sua rede minha intenção enleada e agora, em sua volta, chega de mãos vazias porque, alegre e distraído  não calculou o quanto elas eram preciosas nesta manhã.

As águas de inverno levaram para o fundo do mar o meu intento mas as conchas da beira da praia recolheram cada palavra derramada em alta voz nas minhas caminhadas.

domingo, 18 de agosto de 2013

Intervalo



Acordei tonta, estremunhada e diferente. Vaguei pela casa esquecendo a rotina de ligar a cafeteira, o computador e voltar para cama esperando que a vida acabasse ou se, não houvesse jeito mesmo, eu teria de levantar.
Desta feita, não pensei nada disso, não me olhei no espelho como sempre faço para ver  as rugas do dia e também não quis saber de noticias, de imprensa, de tragédia. Enxergar os cabelos brancos também já larguei de mão e agora o que eu faço todo dia é ver  se ele branqueou mais porque me entreguei a ele com devoção.

Também não olhei para ver se tinha sol ou se o tempo me dizia que eu deveria saltar em cima de uma bike e pedalar furiosamente aqueles 20 quilômetros dos diabos ou se deveria ir para academia. Na verdade, não me pareceu que eu fizesse exercícios ou me preocupasse com isso.

Continuei desarrumada, descalça e sem rumo e me dei conta que eu não sabia se estava na cidade ou na praia e  não tinha a menor idéia se precisava trabalhar, ter de articular conversas bobas, me rebelar ou dormir toda a tarde.

Senti que faltava alguma coisa, tipo um ou mais fãs, um namorado, mas nada me veio na lembrança e fiquei pensando que seria sómente uma fase.

Neste delírio o sol afundou no horizonte e eu compreendi.
Passei o dia, alhures, com 25 anos.

sábado, 17 de agosto de 2013

Desvendando



Fiquei olhando fixamente para aquele nome e não me ocorria de o reconhecer,   mas senti um vento quente passando no recinto, e uma sensação de clima claro, confortável e alegre.
Também me senti muito jovem, ruidosa e destemperada. Avancei mais um pouco para dentro de mim e fui catando outras lembranças porque a faina de descobrir o autor da mensagem me trazia um certo bem estar e muita curiosidade, medos à parte de vírus letais que perpassam solenemente pelos céus de hoje.

Junto com estas sensações me veio à boca o gosto do drink “Alexander”, uma bebida que aqueceu a garganta em outra era, poderia  dizer. Junto com este sabor, uma vista geral de barulho, fumaça e muita gente. Algazarra, muito vento, risadas, calor, lindas imagens, muita conversa. Afirmo, porém, que esta recordação me veio em tom difuso e antigo.
Decidi ir mais fundo, esgravatando nas gavetas da alma porque a juventude tomou conta de mim e a esta altura minha pele renovara-se, eu não sentia preocupação a respeito do futuro e a data presente era bem vivida e aceita, como sendo a única coisa a fazer. E, de fato, era. A oportunidade de voltar um pouco ou muito no tempo, traz em si a conveniência de revermos a vida como  se fosse um curta de cinema.

Parei  para  pensar e não somente sentir. Cravei o olhar na tela e senti a pulsação cardíaca subir, empenhada em saber quem se representava naquele nome misterioso.
Do nada, ele surge magrinho, cabelo comprido, riso fácil, fala apressada.

Descobri.

sábado, 10 de agosto de 2013

Vista


A grande angular da vida coloca em perspectiva o furacão do pensamento iniciando uma busca incessante do entendimento do que vai por aí, no arrasto  deste planeta de agora.

Um mundo  que nada tem de distinto dos anteriores. Tudo sempre existiu, só que de formas diferentes, e por isso mesmo olha-se para trás e para frente num vai e vem de valores ficando difícil aceitar o que nos ronda. A leitura margeia o olhar interno e, de tanto forçar a vista, não reconhece mais os desejos e as verdades.

Que era é esta cuja obrigatoriedade perpassa pelo que não importa, que delata a precariedade dos anseios e que não repercute no melhor e não acrescenta um mínimo de valor de vida.   Obrigados estamos a olhar o que nos desagrada e não traz frutos, assim como coagidos por todas as forças que vão contra a natureza e a essência de cada um.
Decidi pendurar meus olhos em lentes coloridas. As róseas darão alívio ao que vem cansado, as avermelhadas trarão quentura ao desafortunado, as azuis chegam com a paz em seu bojo, todas as nuances do preto traz confiança e as  brancas desabotoam os olhos. O formato de “pince-nez” desenrola a macega espessa que encobre a vida.

Um olhar aos cornos da lua.

sábado, 3 de agosto de 2013

Digressões


 
Sentei-me numa posição bem incômoda, de modo que a qualquer momento eu pudesse saltar para o lado, ou no pescoço de alguém, ou me jogar no ar com apenas o espaço a me aconchegar e em seu peito azul flanar e cair em qualquer lugar. Vou deixar humildemente que esta seja a escolha do vento, ou dos pássaros, que pegarão para si a tarefa de me ocultar da vida.
Assim postada, as possibilidades perpassam diante de mim como múltiplas escolhas de um jogo que todos estão empenhados em jogar e eu não mais.

A insistência em se familiarizar com o inoportuno é uma das pragas da atualidade que temos de enfrentar estoicamente todo dia, apesar do cansaço da mesmice dos assuntos que na modernidade fazem do ter e fazer a sua meta.
Inglória a busca de arrumar parceria que encontre na sutileza o assunto do dia, e tantos são eles que quanto mais relevantes, mais escondidos ficam da massa urbana. Vou ensaiar alternativas para quebrar este protocolo.

Ou trocar de cadeira.

Gosto amargo

  Girei os calcanhares com gosto amargo na boca travando meu raciocínio para reconhecer o espaço de tempo que ocupo desde há muito e que hoj...