Tenho mais paixão pelas palavras do que pela
escrita, com acessos contínuos de trazê-las à berlinda, usando-as para me
deliciar com seus significados, retorcendo um pouco e surpreendendo do tanto
que podem mudar nosso pensamento e atitudes. Portas e janelas se abrem ao novo,
inusitado, diferente.
A portabilidade é uma dessas novas palavras da moda. De
repente temos o direito adquirido de levar a outro protetor tudo o que
recebemos por anos a fio de facilidades e de apego mútuo por aquela senha
gravada na nossa mente e de todos os que queremos bem. O passaporte do contato.
Por ele nos conectamos com o mundo, negociamos desarrufos,
matamos com força de sabre a saudade e chegamos, em segundos, aonde queremos
estar. Do outro lado do nosso fiel servidor sempre tem alguém ou “aquele”
alguém que de pronto atende o chamado. Uma ligação desesperada, outra morrendo
de amor, ou, muito engraçada. Vazar as palavras desta forma se torna
imprescindível para se estar junto, apesar de que as falas ao vivo, com todos
os seus tons, sobre-tons e surpresas estejam tão fora de moda.
Depois de tanta conversação e fidelidade inescapável nos
códigos adquiridos surge outro protetor que nos oferece a mesma coisa
conservando o mesmo número. O poder da sedução moderna joga pesado, e, um pouco
sem pensar, nos atiramos nos braços do distinto que nos promete tudo e muito
mais. Relegamos sem medo nosso futuro das comunicações a este mundo hightech
que se apresenta cheio de promessas de mais simplicidade, mais interatividade,
mais e mais. Tantas juras. Vou fazer a portabilidade do amor no meu coração.
Escrever para viver e viver para escrever. A inspiração é o meu objeto de desejo a cada amanhecer e assim minha alma fica fortalecida no encontro do silêncio e da natureza marítima. Leiam com bons olhos! Mail para contato: verarenner43@gmail.com Vera Lucia Renner
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Proteção
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Castelo de Cartas
Uma a uma as cartas foram sendo jogadas, indecisas algumas,
apostadas com vigor outras e tímidas também. Porém, em sua maioria, a sorte
pendia para os apostadores agressivos que jogavam suas fichas com sofreguidão e
a desordem de quem não respeita as regras, quaisquer que sejam elas.
Foram sendo colocados muitos reis e um nadinha de súditos,
parecendo a todos que o coringa estava submerso neste baralho estranho, onde
apenas as cartas autoritárias tinham vez.
A jogatina era pesada, com apostas determinantes a qualquer
preço, sem pensar, sem olhar o semblante do outro jogador, sem a astúcia das
cartas na mesa assim como as do centro e nas mãos dos parceiros.
Me chamou a atenção as rainhas de muito baixo escalão que
seguiam orgulhosas sem ao lado olhar, construindo seus castelos a partir da
destruição de palácios, atravancando a operação pelo bel prazer do orgulho e da
prepotência. Altivas, o valor das cartas careciam de inteligência e a soberba
imperava e seguia incólume, encostando sempre no líder da mesa – o Ás de Ouros
– que apesar da fama de herói era o mais pobre coitado do carteado.
Todos os reis agrupados mais se degladiavam e se concediam
glórias entre si, do que propriamente jogavam suas cartas com habilidade e
presteza. Assim era impossível entrever a situação no tabuleiro que também
abrigava excelentes jogadas com personalidades talentosas. Ocultas. Enfim
o jogo chega ao fim. O
Coringa surge apenas para capar o Ás de Ouros.
domingo, 6 de fevereiro de 2011
Marionete
O cabo ligado em cordas disfarçadas de seda
movia todos os seus membros, acionando braços e pernas sem vida de si, mas
outorgada a outrem como se fosse um ímã. A sensação de ser um títere, cuja
personalidade se foi há muito, ou talvez nunca tenha se estabelecido, foi
relevante para que a dança de marionete se fundasse.
Em um levante de dedos todos os comandos em alta com a cabeça
se agitando e sendo obrigada a enxergar a demanda do autor. A situação
se movimentou em muitos e certa fraqueza assolou o articulista que começou a
derrear comandos, deixando o marionete por sua própria conta. Acovardou-se,
o pobre, na batida ligeira de todos enredados. Fugiu.
Atirado ao solo, sem as amarras que lhe montavam a carcaça e
livre dos cabos que lhe concediam o movimento autorizado, recuperou sozinho sua
identidade roubada, por um período, com seu próprio consentimento, diga-se a
verdade.
Um pouco resvalado e ainda com a sensação da linha de força a
lhe enlaçar, lá se foi o marionete. Em direção a si mesmo, por enquanto.
Duas lágrimas
O dia chora mansinho se unindo a tantas e tantas outras vertentes cristalinas que brotam de olhos de todos os matizes sempre mantendo a au...

-
A traição impera de certa maneira no nosso dia começando pelo tempo que prometeu ficar de céu azul e se vendeu aos ventos e chuvas, desa...
-
Na primeira vez me chamou a atenção um pé de sapato solitário perdido na beira do mar. Era de homem, e devia estar no fundo do oceano al...
-
Descobri que estou sempre de malas prontas, não importando a viagem. Ao meu alcance, a bolsa do dia a dia que carrega em si as esperanças...