domingo, 24 de janeiro de 2010

Natureza




Ele sempre surge dentre o verde. Parece que nasceu por ali, que forjou sua vida entre o sol, a chuva, flores e folhas, tendo-as em sua composição. O ambiente natural lhe cai muito bem porque é desta simplicidade da natureza que sua alma foi feita.

Passo acelerado, cabeça baixa, pensamentos cerrados no que está por vir em seguida. Sempre tem vento a balançar seus cabelos brancos e a brisa forte também o faz franzir o nariz, característica tão peculiar desde sempre em sua feição. Os olhos vão ao longe e voltam ao chão, na espreita ansiosa.

Na boca, um esgar nervoso. E na mente uma interlocução adoidada de si para si, falta-lhe o ar e sufoca-lhe a garganta.

Na fantasia, a emoção de mais um encontro em que muitas e tantas palavras serão ditas e tantos pensamentos saltearão. Ele sabe, porém, que após dizê-las nem em mil anos serão todas faladas. E compreendidas.

No atropelo, tenta pensar direito no que lhe vai no coração volteando argumentos e revelações que transbordam atrapalhadas, desconexas, e em meio a tanto esforço recomeça a pensação. É preciso chegar logo. O resgate desta loucura está próximo e a redenção virá.

As passadas são curtas e rápidas com olhar focado no caminho.

Levanta os olhos ao chegar.

E então, a mente relaxa, o sangue começa a fluir normalmente, o coração se acalma, as mãos param de tremer.

Sorrindo, ele a abraça.


sábado, 9 de janeiro de 2010

Arrivals



É sempre a mesma coisa ao chegar. O ar, denso, pesado de sal e maresia parecem querer te avisar que é chegada a hora do tempo bom. É o momento para dar asas à imaginação, deixar rolar a vida e docemente esquecer tudo.

Tudo mesmo. O bom e o ruim, porque com a mente vazia, enxergamos o que está na nossa frente. As cores diferentes da paisagem, o desconhecido a desfilar insistentemente te provocando como a te avisar que agora vai. Vai andar o tempo certo das coisas. A cadência e o calor são teus sócios na empreitada.

Assim é a chegada diante do mar. Inquieto na espera de lamber todos os pés e molhar todos os corpos. Ardentes ou não. Cansados ou cheios de energia.

A combinação do ar e do clima são drogas pra lá de sedutoras para deixar qualquer um feliz no encontro de si e da natureza. E por dentro de nós não encontramos nada, somente o vazio da chegada e a espera de surpresas.

Afinal, recomeçar exige preparação e abandono do antigo.

As coisas podem acontecer a partir de um dia de sol, ou de chuva, pois todo dia de folga é dia de celebrar.

Talvez alguma conversa sem a menor importância e sentido bafeje teu silêncio voluntário, contaminando as idéias que estão sensatamente a descansar.

As palavras adormecem no regaço do cérebro porque o paraíso solicita

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Socorro sem palavras




Reunir-se em muitos, às vezes, é surreal porque a situação pode trazer em seu bojo armadilhas da linguagem e da atitude que parecem impossíveis de acontecer. Mas acontecem. Bagagens reunidas no absurdo geram interlocução nem sempre claras.

Tudo pode acontecer no paralelo da comunicação de quem não tem coragem de enfrentar a realidade e vai se esquivando dos adventos e arrancadas das nossas relações fraternas e de amor.

A palavra em alta voz fere como dardos se assim o quisermos. E calam tão fundo que jamais vamos esquecer da “imagem” falada. Da palavra dita por acaso com toda intenção de ofender, com todo cuidado de bafejar a falta de educação espalhando a maledicência.

A palavra, sublime, tem dois lados. Famigerado o que as utiliza para o sinistro.

A palavra escrita fere a fogo quem dela não souber se servir. No conjunto então...Ai meu Deus. Nos diálogos a compreensão não é prova concreta de entendimento comum. Cada um entende os fonemas de uma forma e a expectativa da grafia é maravilhosa por tantos estilos e formas de expressão existentes. Despejar a ira ou o amor em frases alonga teu prazer ou tua fúria. Relatar a realidade – sonho e fantasia - é uma arapuca que quase todos nos metemos. Praticamente todos os dias.

A palavra não vista quase sempre abriga a mágoa, e, o destino da mesma, é ferir o outro. Parecer supérflua e vacilante, levemente indiferente, a atitude se consolida através da rejeição programada milimetricamente. Tão definitivas e inaudíveis que põe em choque a quem se referem. Quase sempre conquistam seu objetivo que é demonstrar desprezo.

Mas, preste atenção: ninguém destrói quem tem sensibilidade para perceber, esquecer e perdoar. De repente, fico pensando que em tantas palavras, fiquei eu com saudade do tempo que não vivi: “o sinal de fumaça” dos índios...Chamativo, silencioso, atencioso, objetivo e muito esclarecedor. Socorro sem palavras.


Duas lágrimas

  O dia chora mansinho se unindo a tantas e tantas outras vertentes cristalinas que brotam de olhos de todos os matizes sempre mantendo a au...