Escrever para viver e viver para escrever. A inspiração é o meu objeto de desejo a cada amanhecer e assim minha alma fica fortalecida no encontro do silêncio e da natureza marítima. Leiam com bons olhos! Mail para contato: verarenner43@gmail.com vera renner
domingo, 29 de novembro de 2009
Mulheres "on"
Mulheres “on” acordam com uma carga pesada por cima que inclui o próprio cônjuge e agregados.
Também aos domingos.
Tudo pode ser: filho, cachorros, empregada e todas as tarefas domingueiras, mesmo com o maior sol, e claro, muitos compromissos.
Nada supera uma mulher “on” em um domingo de manhã, acordando com um filho na cama desde há muito, um cachorro lambendo sua cara, e o marido, pedindo que faça o café da manhã.
Que romance!
A faina inicia pela louça do dia anterior a lavar, a sujeira do animal a limpar e, quiçá, ainda sair para a cadela fazer seu exercício.
Também se faz necessária a caminhada matinal resfolegante, porque tem que se manter a saúde e a forma, e, no arresto, vem o decujo esposo arrastando correntes.
Na seqüência, banho das crianças, e disparar ordens de comando para todo o exército familiar. Que coisa. Que mulher!
E segue o baile do domingão, porque é necessário, absolutamente, almoçar na casa dos pais carregando toda a família, inclusive a cadela.
Ou com amigos.
Ou na Igreja.
Ou no condomínio.
Ou na própria churrasqueira. Uma tarefa para homens. Maridos.
Indômita, ela não esmorece na corrida do domingo perfeito. Afinal, é responsável pelo bem estar familiar, pela união, pela grata performance domingueira.
Demos viva às mulheres "on"!
Ah, acho que esqueci de citar, que às vezes, depois de todo este esforço não tem DEUS que tire o marido da frente da TV, de tarde, para assistir futebol com uma cervejinha para fechar o dia e roncos para adentrar a noite.
Mulheres “off”
Um mulher “off” acorda pela manhã sorrindo.
Principalmente se é domingo.
Se espreguiça como uma gata manhosa, e pensa: o que eu vou fazer hoje?
Devagar, vai atingindo um estágio de consciência muito peculiar às mulheres sem compromisso. Isto é, um estado letárgico.
Todos os movimentos após o acordar são fluídos e prazerosos.
Não tem nada muito importante, afinal, é domingo, e domingo de sol.
A mulher “off” começa seu dia de domingo após a cama, perambulando mansamente pela casa, apreciando seu cantinho, bem maneiro e arrumado com o que lhe é do gosto e conveniência.
E organizado.
Com café passado na hora sendo sorvido na xícara de porcelana e pernas para cima, a mente em sonhos é obrigatória.
Mas, sem compromisso.
Uma mulher “off” faz seu exercício por prazer, encontra seus amigos por opção, e trabalha no domingo porque será mais fácil enfrentar a segunda-feira.
A caminhada é leve, a escrita flui e os demônios desaparecem.
Por ora.
Afinal, é domingo e não há com o quê se preocupar.
Ah, esqueci de dizer que a mulher "off' sorve aos golinhos uma champagne geladíssima...mais ou menos em qualquer hora do dia..ora, isso importa?
sábado, 28 de novembro de 2009
Onipotência
A vida de hoje é marcada pela nossa onipotência. Nunca em tempo algum me defrontei comigo mesma em tal fissura de decidir.
De esbravejar contra o destino e forçar o caminho.
Os consultores de RH não me deixarão mentir porque são os especialistas em pontuar tudo o que o desgraçado do profissional tem que fazer para chegar no topo, na excelência, no ISO, no funcionário padrão. E subir, subir, subir....até cair.
Na vida.
É a tal de regra para todo lado.
E a liberdade, arrotada com estrondo aos quatro ventos, nos faz sentir onipotentes e donos da nossa vida e caminhos e, em todos os conselhos recebidos, o pecado mortal é deixar a vida acontecer. Não se deixe manipular pela vida. Você tem que dominá-la.
Enxergue-se!
Aí, surtei.
E lembrei, carinhosamente.
Dos meus sete anos, e minha ida à escola ( naquele tempo se ia à escola SOMENTE , aos sete anos. Até então, brincava-se de bonecas e vadiava-se o dia inteiro.)
Era inverno rigoroso, minha mãe me acordava invariavelmente de manhã bem cedo, adentrando meu quarto e abrindo as janelas com estrondo, dizendo: “tá na hora, o dia está lindo temos que aproveitar”.
Engraçado, não importava o clima, o discurso era sempre igual. Talvez achasse que fosse me animar.
Mas não tinha jeito. Eu sentava na cama, atordoada e muda.
Então, minha mãe vinha e me erguia me fazendo estar em pé. Levanta um braço e depois o outro e uma perna e depois a outra me livrando do delicioso pijama de pelúcia, quentinho e de tão velho, meio furado. E o processo continuava até eu estar vestida com o uniforme austero do colégio de freiras.
Eu não dizia palavra. Deliciada, me deixava comandar.
Após vestida, a ida ao banheiro, a babá se encarregava da higiene, de prender meus cabelos rebeldes uma vida toda, num lindo rabo de cavalo. E a me chamar de “andeja” porque eu fazia cara feia ao vê-la me desembaraçar os fios sem piedade e com pressa.
Ainda calada, apenas me deixava levar, saboreando cada momento sem decisão própria.
Fico nostálgica em pensar naquele tempo em que amorosamente era preparada para viver o dia.
Nossa onipotência no comando da vida, não nos deixa viver.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Aqueles dois
Fico passada ao ver aqueles dois nos arrulhos.
Os olhos não são de comuns mortais cuja retina vaga alhures, desanimada e sem graça permutando de faces que se encontram ao redor.
São olhos adentrados na alma um do outro. Olhos casados em azul e negro que buscam desesperadamente descobrir segredos e o amor, ainda inconfesso.
Magnetizados pela luz da íris e a inconsistência do espírito lá vão aqueles dois sem conseguir fugir um do outro.
É como uma fossa profunda que mesclada de cobalto e preto na superfície, as estrelas cintilam e mostram os vários caminhos, que aqueles dois ignoram, no entanto.
Parece a eles que existe um só caminho, um só destino, uma única conseqüência: os dois em si.
Não sei se aqueles dois somos nós, ou se nós somos aqueles dois.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Vou... não vou...Vou!
No brete, montada e agarrada no dorso da ocasião, olhando para frente, não enxergo direito para onde me chama a vida. Mas eu sei que é lá adiante. E que alguém está me esperando, ou, se não é alguém, é alguma coisa.
Mas é.
O entorno deste confino comprime o coração na razão que imediatamente se subjuga sem forças para lutar. Corra e vá ver o que te espera.
Abafada nos avisos de perigo, do futuro incerto, do improvável, firmo pernas e punhos no sonho.
Solto as amarras cerebrais do brete tal qual uma amazona das oportunidades.
Arremeto todo meu ser e disparo.
Para aquele lugar, que ao chegar, parece ser lugar nenhum.
Lugar de ninguém.
Sem as flores imaginadas.
Sem as sombras da natureza.
Sem a presença do amor antigo.
Sem o calor do abraço.
Sem as promessas.
Sem o futuro garantido.
Aí, me dei conta.
Arremeti, e encontrei a esperança.
domingo, 15 de novembro de 2009
Eu sempre vou te amar
A vida nos traz inconstâncias, fluídas umas, outras não.
Mas... o amor existe continuamente em nossas almas e ele sempre tem um só nome.
Um só.
Aquele que se venera como uma marca de nascença.
Este amor rola pela vida afora.
O coração recebe muitas companhias intermitentes, porém, no cantinho, fica ele.
Aquele!
Ele, que despertou em você todos os assaltos amorosos e sonhos românticos.
Toda a expectativa de ser amada.
Sem condição.
Sem restrição.
O amor verdadeiro e incondicional.
Só “ele” pra te fazer feliz.
......Pensava você.
E a vida anda, muda, sobe, desce. Vira ao contrário do que imaginavas.
Aquele amor mudou de ares.
Você também.
Porém, amor que é amor, não some.
Persiste.
Mesmo que somente no imaginário de uma mulher, definitivamente romântica.
Aliás, que pensa e sugere que seu amor é eterno.
Seja ele quem for.
sábado, 14 de novembro de 2009
Ventilador de teto
Conforto térmico é a palavra de ordem quando chega o verão.
Bons ares e vento na moleira é urgente.
Lufa lufa de calorões da idade e do clima deixam mulheres, principalmente, em palpos de aranha.
Então, um ventilador de teto será a redenção refrescando, em primeiro lugar, a mente afoita que queima em fogo lento no trabalho que cada vez aumenta mais.
E o vento na mesa de trabalho agita papéis, pautas, contas, recados amorosos, números de telefones imperdíveis, tudo voa e se movimenta alegremente, e, em vão, queremos alcançar, catar e trazer pra juntinho.
Fora o resto. O restolho.
Impossível.
O vento brinca com nossos legados importantes, fazendo pouco da gente, rodopiando igual catavento ou pipa, girando de cima para baixo e de baixo para cima, à mercê dos ventos uivantes.
Animação imperdível de uma alma ensandecida...
Um príncipe da calmaria. Seja qual for.
Do refresco da tarefeira.
Da mente doida, fugindo toda hora.
Do redemoinho.
Do delírio.
Das impossibilidades.
Do corpo, entregue.
O ventilador de teto vem te dizer que podes amainar teus suores, calmamente.
A brisa sopra fresca.
A catadora
A moça analfabeta tinha 15 anos, magrela, vivia de catar tudo para se manter viva. A si e ao filho.
Ao contrário do que se possa imaginar o tóxico se transforma em um espírito iluminado caridoso e inteligente. Com uma filosofia cadenciada através de juntar pedaços jogados fora vai seguindo para os seus melhores momentos.
E a vida vai neste ritmo, de sol a sol, com o único objetivo de, com o entulho, viver. E o sustento duvidoso fortaleceu o corpo e a mente.
Indomável.
Eterna.
Definitiva.
Inteligente, mais do que tudo, prega sua filosofia de vida advinda da penúria pura e simples, que ninguém tem, nem estudando.
Emergindo do refugo, a alma se aprimora e se manifesta solidária. A sensibilidade aflora e a todos a quem ama são benditos se merecerem estar bem perto do seu coração.
A moça, agora uma mulher feita, cata alegorias e flores, bons sóis e ventos calmos e redistribui seu amor às criaturas que a fazem se sentir viva e amada.
A catadora de refugo se transforma em catadora de vida...
Que adoravelmente, distribui.....
domingo, 8 de novembro de 2009
Permanência
Companhia faz falta. Estamos sempre buscando alguém para falar, conversar, trocar uma idéia para gastar a língua e dar ritmo na garganta. Rotinas apequenadas tocam a vida e as presenças diárias vão se alinhavando junto com a gente.
Esse é o day by day das almas penadas que sentem falta de si com os outros e dos outros em si. Às vezes o cérebro fica fora desta parada, porque, ora veja, os parceiros da conversa são agilmente acionados e o vai e vem do conteúdo, quase que se sabe de cor.
Mas sempre temos um alguém especial que não faz parte da faina cerebral dos sonhos ou dos desavisos inesperados da vida. Este amigo não se encontra por perto, porém, está suavemente perto do coração, calmo e dizendo: aqui estou, pertinho. No bate estaca da memória. A posição clássica de quem encosta o ombro, cruza uma perna atrás, sorri, e se faz presente.
O arrimo da permanência.
A saudade dói, encurta o estômago e alonga as pestanas rumo ao infinito tentando enxergar o permanente ouvidor, sem, no entanto, tê-lo ao alcance.
Então ocorre a conversa “online” de alma para alma, desabando conteúdos revelados pela senha secreta dos espíritos que se combinam.
A impermanência some e o amigo se faz presente.
Já intuis suas suposições.
Te ouve pacientemente sorrindo de canto.
Já sorris no riso dele.
Te mistura nos relatos, como lhe é peculiar.
Já dizes uma asneira em cima da outra.
Te confessa pecados inconfessáveis.
Já te arrependes de ter sido loquaz.
Te debocha sutilmente a algazarra.
Felizes no encontro de pensamento os assuntos saltitam, surpreendentes uns, outros menos. O inconfessável corre solto, o sutil fica banal e temas polêmicos viram piada.
O prazer incontido da permanência do amigo de alhures.
sábado, 7 de novembro de 2009
Xícara de porcelana
Para a casa de praia trouxe todas as porcelanas e cristais que não utilizo na cidade. Ao contrário de tudo que na praia utilizam. Gosto, às vezes, de andar na contramão. Acho engraçado.
Para mim, o mais simples é o que eu já possuo.
Um luxo.
Um café fresquinho numa xícara de porcelana não tem preço. Antiguidades trazem almas transpiradas em família e delicadeza. Uma suavidade no toque que trazem as melhores lembranças à tona. Bom gosto ao acordar.
Adorável.
O café desperta a vida bem calma, delicioso toque quente, de paladar que te faz feliz e viva. E pronta.
Uma xícara de porcelana tem o poder de elevar teus pensamentos, firmar leves gestos e suscitar para sempre coisas boas.
A você, ela se oferece, simplesmente.
Dormir cansado
Hoje em dia a gente passa o dia “mega-cansado” como diz uma amiga querida, e na hora de dormir, estamos alertas.
Porque a batalha no dia vai de ponta a ponta em sentidos divergentes muitas vezes e aja equilibrista para suportar.
Porque será então que dormir cansado virou um objeto do desejo? Pois veja bem que faz parte da lista de coisas deleitáveis do escritor Paulo Mendes Campos.
Eu vou ter de concordar com ele, porque já levanto querendo “me cansar”. E na manhã laceio braços e pernas à exaustão e chego em casa com o corpo moído, mas a mente alerta. Uma coisa de louco, penso, eu me domino na porrada.
Porrada de susto físico para incrementar a cabeça que ora foge daqui pra lá e haja paciência para jogar o laço e trazê-la de volta.
Quem ama dormir cansado – raridade hoje em dia – sabe do que estou falando.
Com as tantas alternativas da vida, a mente, coitada, super ativada a responder “just in time” à tudo que nos é proposto, fica pensando que estará a nos trair se desanimar. E então, vitaminada pelo desafio fica em cima do lance. Nos deixando doidos. À noite, é claro.
E depois, tem as multi-tarefas que estão listadas no cérebro e que não podemos esquecer. Então, como parar, se o trote tem que seguir em passo? Não tem como.
E chega a hora da cama.
Para os amantes, mais uma tarefa de homens e mulheres com dever a cumprir.
Para desnamoradas, a redenção, uma vez que menos esforço.
Amo dormir cansada.
Voar ... Seja como for
Amo andar de avião. Me acontece um super frisson que saio de mim na véspera.
Parece que estou entrando em outra vida, que deixo esta para atrás.
Sempre vou de salto alto e olho tudo de cima, e só para cima! Nada de ficar olhando para o chão, desenganada da vida com medo de tropeçar. E cair.
A vida vai aos ares agora, nas turbinas de um Airbus. Embaixo, tudo pequeninho. Como a vida da gente, apequenada pela rotina.
Eu fico achando que tudo é muito pouco e de agora em diante virão as melhores chances porque estou no alto. Outros ares. Outras faces. Outras paisagens.
Deveria ser sempre assim. Voltar nosso olhar para cima, planar em esferas superiores, com o espírito preparado para as piruetas da aeronave – nossa alma.
Esta alma de quem descuidamos, muitas vezes, migrando para planetas ordinários com arredores infames.
Chega de entorno. No avião não temos lado para olhar. A perspectiva do mundo está ali aos nossos olhos e envolta no infinito.
É bom planar nos céus. Acalma o delírio e a insensatez.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Voltar para casa
Depois de uma viagem real para algum lugar, ou, mesmo uma saída espetacular da realidade, vulgo “viajar na maionese”, voltar para casa é a redenção.
A casa, que ficou vazia de você, aguarda calmamente o momento em que retornas, para lhe devolver a vida. E você entra nela carregada de uma bagagem extra. Trazida de caminhos desconhecidos até então.
E haja lugar pra encaixar tanta lembrança. Não queremos que nada fique de fora.
Então, vamos fazendo as escolhas.
Os prazeres da mesa irão para o freezer, lugar perfeito para acondicionar em potes imaginários, os especiais aromas e paladares. Pois, de vez em quando, ao abrir o acondicionado eles voarão em nossa memória.
Os vinhos fantásticos sorvidos na melhor companhia de si, da paisagem ou de alguém próximo e de outros, nem tanto, são descritos na caderneta de anotações do médico para relatar na próxima consulta. Precisamos que ele nos diga: no fígado, a senhora não tem nada.
As compras feitas por impulso vão pra caixa fechada, tudo bobagem.
As aquisições elaboradas, como o porta-retrato furtacor, o lenço de seda macio e colorido, a xícara de porcelana, a pashminna, o perfume, terão lugares de honra no closet. Serão as quinquilharias da hora e estarão sempre à mão para serem usadas, trazendo as boas lembranças do encontro em que uma se mostrava à outra, se oferecendo.
As fotos serão reveladas na maneira mais antiga para que, fisicamente, se espalhem pela casa, dando um ar de vida em dia. Vida atualizada. Vida bem bacana.
Os diálogos, as palavras soltas, se transformarão em escritos e quem sabe cada uma, separadamente, com seu significado renda uma crônica, um conto, um poema ou um texto qualquer. Mesmas palavras e vários vieses.
As pessoas – personas conhecidas – neste último caminhar ficarão presas na caixa eletrônica de Outlook com seus e-mails redigidos carinhosamente. E talvez, com o passar do tempo, esquecidos. O telefone fornecido é o celular, esta máquina da surpresa, que te tira de qualquer lugar, em qualquer momento, sem a menor cerimônia. Com certeza ficará relegado ao esquecimento, pois lhe faltará intimidade para acioná-lo, se sentir saudade.
O perfume e os ares de onde andaste a esmo vêm impregnados na tua roupa. Porém, partirão impiedosamente ao serem lavados com os perfumes usuais da casa. Sendo assim, está reposta tua rotina de cheiros. Eles ficarão, apenas, na ponta do teu nariz. Fechando os olhos, o recebes de volta.
Os amores conquistados nesta viagem estão no fundo do coração.
A casa te aguarda, bem arrumada e limpa para o repouso de todas as emoções.
O coração se deixa ficar, quieto.
De malas prontas
Descobri que estou sempre de malas prontas, não importando a viagem.
Ao meu alcance, a bolsa do dia a dia que carrega em si as esperanças de negócios, de um almoço, uma conversa.
Talvez compras ensandecidas e para isso todo aparato de crédito para deixar tonta qualquer atendente de loja.
Não esquecendo pequenos imprevistos que transformam minha bagagem diária numa malinha bem maneira, podendo eu ficar fora de casa, por um dia, quiça dois, sem aviso prévio. Tão completa de objetos quanto de intenções. Bom saber que se pode sumir. Um dia, uma tarde.
No quarto, de cantinho no plantão, uma bolsa, sempre que dá, jogo um objeto, uma roupa, um chinelinho, um batom, um creme, um livro, um cd. Quem sabe posso fugir pra praia qualquer hora. A hora nunca chega. Mas a fantasia da traquinagem está sempre presente e vou juntando a tralha. Um dia dá.
A mochila é outro item que está na altura dos olhos e no alcance da mão. A dita cuja abriga a completa tecnologia que me leva pra longe me deixando próxima de tudo. No controle. Indispensável para estadias mais longas ela se configura alegremente na minha super companheira de ir e vir. Não fico longe dela porque ela é minha esperança e minha liberdade.
A mala de rodinha, esta, está mais escondida. É para vôos maiores e atualmente, não está sendo usada, mas está muito bem reservada com belos planos para quando eu for a Paris, Nova York ou São Paulo mesmo. Ainda não comecei a colocar dentro dela os objetos. Mas o imaginário pulsa quente e acelera o pensar. Questão de tempo. Pouco tempo.
Maravilhoso pensar no ir e vir.
I miss you
Eu sinto falta de tanta coisa.
Todas elas são coisas pequenas. São as que mais me falta fazem.
Uma carta, um bilhetinho, um telefonema, já bastam para colocar a vida num compasso bem bacana.
Sendo bem cafona, vou dizer que sinto falta da fala ao telefone. Da linha fixa, estou me referindo. Esta tecnologia esquecida.
Sinto falta do “trimmmm...trimmmm....trimmm” e da desvairada corrida da cozinha pra sala para atender o amor que te chama e já tava na hora, ou do amigo para te contar o mais recente babado, ou pra te perguntar como vais ou para nada, enfim. Ou o filho, quiçá, que com sorte lembrou de você nas distâncias calorentas do nordeste. O telefone faz parte das minhas mais remotas alegrias. Continuo amando seu toque, como um fetiche da boa notícia. Nem sempre advirão.
Ao telefone acontece esta coisa antiga, que se chama - conversa - que nos faz sentar bem confortavelmente , colocar as pernas para cima e vicejar um bate-papo de fazer inveja às comadres dos tempos idos. Cada vez mais rara a prática. Nesta conversa, os olhos podem migrar nas paisagens através das janelas de casa ou do escritório. As risadas te fazem jogar cabeça e cabelos para trás numa entrega inusitada e feliz com frouxos de riso que me dão muita nostalgia. No diálogo, sempre surgem novas teorias e até soluções para os mais variados problemas. Na sucessão sem pressa dos acordos, se pode falar o que quiser e a mente vai abrindo as gavetas e soltando palavras presas, sufocadas, que agora alegres, enriquecem a linguagem, capricham nos sinônimos e na criatividade. Expressar-se verbalmente é também uma forma de colocar os demônios variáveis para fora.
Muita descontração e risada acontecem nos telefonemas de horas e o assunto vai de um lado para outro, veloz. Normalmente a conversa termina sem se saber direito com qual tema iniciou. No fim, uma sensação gostosa de passar um tempo na paz e com quem você gosta de verdade.
Mas, agora, tudo é diferente, ninguém mais tem – ou quer ter - tempo pra perder de pernas para o ar, no sofá, na busca do aconchego da voz, da emoção e da falta que todos sentem uns dos outros.
Mais fácil se esconder atrás das tecnologias infames que pedem rapidez, concisão e pressa. Pressa de terminar.
Portanto, de outrora abertos na arte da locução, voltamos os olhos e a mente para baixo, para a dinâmica dos dedos voando nos teclados diversos.
O olhar, focado na máquina, a confabulação se demonstra solitária e monótona, sem a alegre intervenção do outro.
Conversa de doido, em que apenas um fala e o outro nem em sombras te imagina.
Incrível, nunca falamos tanto e dissemos tão pouco....
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