segunda-feira, 2 de novembro de 2009

I miss you



Eu sinto falta de tanta coisa.

Todas elas são coisas pequenas. São as que mais me falta fazem.

Uma carta, um bilhetinho, um telefonema, já bastam para colocar a vida num compasso bem bacana.

Sendo bem cafona, vou dizer que sinto falta da fala ao telefone. Da linha fixa, estou me referindo. Esta tecnologia esquecida.

Sinto falta do “trimmmm...trimmmm....trimmm” e da desvairada corrida da cozinha pra sala para atender o amor que te chama e já tava na hora, ou do amigo para te contar o mais recente babado, ou pra te perguntar como vais ou para nada, enfim. Ou o filho, quiçá, que com sorte lembrou de você nas distâncias calorentas do nordeste. O telefone faz parte das minhas mais remotas alegrias. Continuo amando seu toque, como um fetiche da boa notícia. Nem sempre advirão.

Ao telefone acontece esta coisa antiga, que se chama - conversa - que nos faz sentar bem confortavelmente , colocar as pernas para cima e vicejar um bate-papo de fazer inveja às comadres dos tempos idos. Cada vez mais rara a prática. Nesta conversa, os olhos podem migrar nas paisagens através das janelas de casa ou do escritório. As risadas te fazem jogar cabeça e cabelos para trás numa entrega inusitada e feliz com frouxos de riso que me dão muita nostalgia. No diálogo, sempre surgem novas teorias e até soluções para os mais variados problemas. Na sucessão sem pressa dos acordos, se pode falar o que quiser e a mente vai abrindo as gavetas e soltando palavras presas, sufocadas, que agora alegres, enriquecem a linguagem, capricham nos sinônimos e na criatividade. Expressar-se verbalmente é também uma forma de colocar os demônios variáveis para fora.

Muita descontração e risada acontecem nos telefonemas de horas e o assunto vai de um lado para outro, veloz. Normalmente a conversa termina sem se saber direito com qual tema iniciou. No fim, uma sensação gostosa de passar um tempo na paz e com quem você gosta de verdade.

Mas, agora, tudo é diferente, ninguém mais tem – ou quer ter - tempo pra perder de pernas para o ar, no sofá, na busca do aconchego da voz, da emoção e da falta que todos sentem uns dos outros.

Mais fácil se esconder atrás das tecnologias infames que pedem rapidez, concisão e pressa. Pressa de terminar.

Portanto, de outrora abertos na arte da locução, voltamos os olhos e a mente para baixo, para a dinâmica dos dedos voando nos teclados diversos.

O olhar, focado na máquina, a confabulação se demonstra solitária e monótona, sem a alegre intervenção do outro.

Conversa de doido, em que apenas um fala e o outro nem em sombras te imagina.

Incrível, nunca falamos tanto e dissemos tão pouco....

Um comentário:

Unknown disse...

Verinha...é incrivel a veracidade das tuas palavras....é bem assim msm!! Adorei! beijo

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