Escrever para viver e viver para escrever. A inspiração é o meu objeto de desejo a cada amanhecer e assim minha alma fica fortalecida no encontro do silêncio e da natureza marítima. Leiam com bons olhos! Mail para contato: verarenner43@gmail.com vera renner
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Hoje acordei com cem anos
Um despertar diferente me leva a crer que fiquei com cem anos da noite para o dia. Percebo o pensamento, outrora célere, parado. Nada dentro da cabeça, todos os nervos embaçados numa farra desordenada e alegre de neurônios em férias. Sensação estranha e boa, afinal. Parece que terminou o tempo de pensar. Agora é flutuar. Nem sei meu nome.
Meus ossos são gravetos arqueados e doloridos e as passadas, leves. Bom não ter vigor. Vigor cansa.
Meu dia de cem anos começa sem tarefas a cumprir. Sem pesos a carregar e sem novidades a lembrar. O mundo parece só meu e de tanto viver, nada devo a ninguém.
De mansinho um ou outro lembrete da vida começa a se derramar e não vem de dentro de mim. Vem de fora, de uma folha de papel jogada ao qual tropeço. Pareço um embrulho roto arrastando a vida que ficou para trás.
O mundo, vazio de futuro, parece comigo. Uma velha cansada. Minha alma jaz ao meu lado, prostrada e cinza, suplicante para voltar ao corpo.
Entretanto, o tempo não parou como eu pressentia. Queria apreciar o nada. Queria enxergar o velho. Queria me enxergar.
E só consigo ver o caminho passado com tantos afazeres empilhados e aprumados que me custa acreditar que aquela fui eu. Cada vez mais jovem, ocupada e tarefeira, pois na lembrança nada me segurou no cumprimento da rotina. E a viagem de volta continua, agora bem rápida.
Engraçado como velho anda rápido para trás!!!!!
Com avidez, a mente abre todas as gavetas e a realidade transborda de dentro delas tal qual lingeries de seda macias, coloridas e jovens.
E, agora lembrei, meu dia de cem anos vai acabar. Como o feriado.
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3 comentários:
Assim, me vi alternadamente como um bule de café, atleta do ciclismo, depois consultor, depois um amigo em formação, depois morri, depois vivi amargas traições, depois fiquei arrependido e finalmente ressurgi ambíguo. Tudo isto não necessáriamente (nem exaustivamente) nesta ordem.
No caminho, descobri que adoro sacanear os teus textos (que estão cada dia melhores).
Favor esclarecer esta pobre alma. (rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsr)
carlos
Que bom acordar cem anos mais jovem e sem medo de viver.
Você escreve muito bem! Parabéns Vera! A gente se sente dentro da história dessas linhas....
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