Meu avô João Pedro morreu dormindo. Velho, ainda forte, viveu o domingo como todo mundo fala que é pra viver: como se fosse o último.
Eu, zanzinava na balbúrdia de choros e lamentações, pensando nesta morte serena e percebi em mim mesma um suave sorriso..de inveja. Tem graça maior ??? O corpo cessa de produzir seus fluídos e o leve arfar do velho já não existe.
Pensei no dia do meu avô, com a rotina domingueira cumprida à risca, chinelos arrastando e seu pensamento voando nas senilidades habituais.
A casa toda, agora me lembro, parecia obedecer um ritmo diferente, com leve cadência de quem tem toda vida pela frente e não precisa se apressar. Eu acho que minha avó Araci pressentiu, porque com um olhar e risinho de canto, sorria e abanava a cabeça ao observá-lo com curiosidade, neste dia.
Tão acostumada em lhe seguir os passos, foi velar o sono do meu avô, por um instante, e sentiu, mais do que percebeu, que ele não respirava. A sua tez, morena, forte, sem rugas, estava desanuviada de qualquer de pensamento. A boca, descansava frouxa, um pouco entreaberta. Suas mãos, outrora fortes e vigorosas, restavam murchas, ao longo do corpo. A respiração se fora, a vida abandonava a matéria, mansamente.
Delicada, sorrindo um pouco, meneou a cabeça bem junto do morto e disse: velho safado.
Escrever para viver e viver para escrever. A inspiração é o meu objeto de desejo a cada amanhecer e assim minha alma fica fortalecida no encontro do silêncio e da natureza marítima. Leiam com bons olhos! Mail para contato: verarenner43@gmail.com vera renner
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Papelaria em dois tempos
Não sei quem me encontrou primeiro, se aquela papelaria antiga ou eu, que ando gastando a sola do sapato atrás de quinquilharias que lembr...
-
A traição impera de certa maneira no nosso dia começando pelo tempo que prometeu ficar de céu azul e se vendeu aos ventos e chuvas, desa...
-
Na primeira vez me chamou a atenção um pé de sapato solitário perdido na beira do mar. Era de homem, e devia estar no fundo do oceano al...
-
Descobri que estou sempre de malas prontas, não importando a viagem. Ao meu alcance, a bolsa do dia a dia que carrega em si as esperanças de...
Um comentário:
Querida Vera,
Esta crônica me lembrou um domingo ensolarado de inverno, onde até o relógio anda devagar ... Beijos. Juveni.
Postar um comentário