quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Tabuleiro de sais

 


Estendi meu tabuleiro de ervas bem no meio da sala porque algo me disse que deles iria precisar para, quem sabe, uma consulta em relação ao que me aflige e, desta feita, o alvo são meus cinco sentidos. Iniciei a investigação observando a palidez em que se encontra a cor dos meus olhos, na sequência o brilho não estava uniforme havendo aqui e ali apenas um leve faiscar dando a impressão que tudo o que surge em frente não causa emoção maior do que um simples pestanejar.

Fui em frente porque o alerta foi uníssono como se todos eles quisessem tirar satisfação da vizinhança que habita a minha cabeça enredada na maior parte do dia. Achei que não era para tanto e resolvi me assentar frente a minha coleção de milagreiros iniciando uma análise mais comprometida comigo mesma.

Arrebitei o nariz aspirando profundamente o ar do dia de hoje não conseguindo – por qualquer motivo – identificar o que andava pairando no ar que tivesse esta personalidade inodora deixando meu corpo em alerta porque, a partir do aroma da vida vou trilhando o passo da primeira caminhada que poderá ser doce como a primavera, úmida como a chegada de um arrastão, faminto na beira do assado de peixe.

Cheguei aos meus ouvidos e não precisei buscar algum sentido oculto para que eles tenham evadido o eco de todas as falas para um lugar desconhecido que sequer consigo adivinhar qual seja. Resolvi deixar como está porque poderia haver um choque sonoro entre o que eles têm por obrigação ouvir e a minha vontade que os quer emudecer.

Mais rapidamente do que eu imaginava cheguei ao parlatório que seguia sem voz em um mutismo característico do tempo incerto. Relevei a impertinência  incendiando as ervas aromáticas que possuem o condão de ativar a inspiração do dia. Agora!

 

 

 

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