quinta-feira, 16 de outubro de 2025

O imperceptível

 


Estou sempre com os olhos no horizonte onde o céu se encontra com o mar e por isso estou acostumada a pouco enxergar, vez ou outra um mastro de navio, uma vela, uma onda que se revoltou e ficou maior que o horizonte, mas, acaba baixando os “flaps” quando o vento costeiro a abandona e então, ronrona baixinho em suas espumas lavando a areia que a recebe com um sorriso debochado. Meu olhar vaga pelo quase inexistente movimento que está sempre na minha alça de mira e que me concedeu o privilégio de encontrar a invisibilidade com mais frequência.

No meu dia a dia de escrever a sensação é que o faço para o camuflado que tão caprichosamente me acompanha na rotina porque, afinal, ao iniciar minhas histórias o meu corpo inteiro inicia a dança solitária uma vez que todos os meus passos pisam no vazio, o meu sorriso abre e fecha em frente ao inventado, meus dedos voam na procura da letra correta, o livro que cai da prateleira sempre é aquele que tem em suas páginas o que eu procuro com ganância de encontrar, a respiração resfolega a cada percalço da narrativa, meus olhos brilham e lacrimejam conforme a tragedia que inventei e finalmente esboço um sorriso malicioso quando descubro que um enigma seria de bom tom para finalizar.

A situação figurativa se repete diariamente, porém, não existe uma surpresa maior do que a legião de atentos leitores que prestigia os textos apresentados, todos eles flutuando nos cabos invisíveis da internet, muitas vezes vindo de uma sugestão de outros cativos da escrita.

Neste mundo oculto o real não se vê a olho nu, inexiste o aperto de mãos, o tapinha nas costas, o abraço apertado, a troca de lágrimas, a emoção contida, o café como encontro marcado, o sorriso de orelha a orelha e a folha impressa. A sensação deste milagre da conexão com a palavra é o manto que me acolhe todas as noites. Só tenho a agradecer. Amém

2 comentários:

Anônimo disse...

Bom dia Amiga! Que maravilhoso Texto! A cada dia amo mais ler o que escreves! Parabéns!!!

Anônimo disse...

Amei teu texto.Tri sensibilidade.Vera, manda noticias.Vamos marcar aí na tua morada. Ando querendo voltar para Porto Alegre e queria, como assim,,me despedir. 💋

Banho de mar

  Engatei a marcha da resolução, pisei firme o pé na areia úmida e gelada seguindo com os olhos vidrados na maré vinda de alto mar até morre...