sexta-feira, 17 de outubro de 2025

A Urbana e a Selvagem

 


Mariana levantou apressada já com a pequena máquina de sequestro da atenção na mão o que causou pequenos problemas na passagem da casa, tropeçando aqui e ali, chutando outro tanto de empecilhos na sua frente que ela, naquele momento, não podia prestar atenção. A vida lhe chamava de dentro da caixa de ressonância que era o diapasão da sua rotina com o tempo, o caminho, a fala, a ideia, o contraponto inexistente. Tudo isso reunido no primeiro momento do dia que estava apenas começando. O sol por detrás do telhado não conseguiu mostrar a que veio e o aparato de clima no interior da casa sonega a informação do frio, do quente, do molhado ou seco.

E assim foi que a Moça alcançou a rua e ao se deparar com chuva intermitente e frio fez meia volta para mudar toda a sua indumentária e isto posto, aprumou o carro e saiu lembrando que não tinha tido tempo para maquiar-se e assim entre um sinal vermelho e outro foi operando o rosado da bochecha, coloriu a boca, tascou nos cílios uma máscara generosa de qualquer coisa que parecia piche. Assim aconteceu que Mariana já estava algumas horas para dentro do seu dia sem poder prestar atenção na Vida em Curso.

Em um outro lado não distante Clarice acordou cedo, como de costume, antes que o sol no horizonte marítimo desse o ar de sua graça e de pronto abriu a casa frente ao mar respirando aquela brisa carregada de maresia neste horário do dia. Sonolenta e marcando passo no chão que rangia ao seu avanço foi se adonando do que estava acontecendo lá fora, no mundo real e não composto ao qual havia sonhado e se adaptado tão rapidamente parecendo que ele já existia dentro dela.

O primeiro alerta do dia são as águas do oceano que faz seu chamado de qualquer maneira, podendo estar com suas ondas baixas e espumosas assim como alardeando o desafio do dia numa maré revolta. Para a resistente Clarice existe apenas uma atitude a ser tomada. Enveredar com firmeza mar adentro e somente estancar a passada quando ele, generoso, a trouxer para si com delicadeza e a envolver na mansidão da espuma marítima, porém, sempre lembrando que de uma hora para outra o folgado vento da madrugada pode querer brincar de esconde-esconde entre ondas.  Clarice aceita sempre a proposta da natureza rumando ao seu lado e aprendendo diariamente como se comportar no curso de uma Vida ao Ar Livre.

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Banho de mar

  Engatei a marcha da resolução, pisei firme o pé na areia úmida e gelada seguindo com os olhos vidrados na maré vinda de alto mar até morre...