Mariana levantou apressada já
com a pequena máquina de sequestro da atenção na mão o que causou pequenos problemas
na passagem da casa, tropeçando aqui e ali, chutando outro tanto de empecilhos
na sua frente que ela, naquele momento, não podia prestar atenção. A vida lhe chamava de dentro da caixa de ressonância que
era o diapasão da sua rotina com o tempo, o caminho, a fala, a ideia, o
contraponto inexistente. Tudo isso reunido no primeiro momento do dia que
estava apenas começando. O sol por detrás do telhado não conseguiu mostrar a
que veio e o aparato de clima no interior da casa sonega a informação do frio,
do quente, do molhado ou seco.
E assim foi que a Moça
alcançou a rua e ao se deparar com chuva intermitente e frio fez meia volta
para mudar toda a sua indumentária e isto posto, aprumou o carro e saiu
lembrando que não tinha tido tempo para maquiar-se e assim entre um sinal
vermelho e outro foi operando o rosado da bochecha, coloriu a boca, tascou nos
cílios uma máscara generosa de qualquer coisa que parecia piche. Assim
aconteceu que Mariana já estava algumas horas para dentro do seu dia sem poder
prestar atenção na Vida em Curso.
Em um outro lado não distante Clarice
acordou cedo, como de costume, antes que o sol no horizonte marítimo desse o ar
de sua graça e de pronto abriu a casa frente ao mar respirando aquela brisa carregada
de maresia neste horário do dia. Sonolenta e marcando passo no chão que rangia
ao seu avanço foi se adonando do que estava acontecendo lá fora, no mundo real
e não composto ao qual havia sonhado e se adaptado tão rapidamente parecendo
que ele já existia dentro dela.
O primeiro alerta do dia são
as águas do oceano que faz seu chamado de qualquer maneira, podendo estar com
suas ondas baixas e espumosas assim como alardeando o desafio do dia numa maré
revolta. Para a resistente Clarice existe apenas uma atitude a ser tomada.
Enveredar com firmeza mar adentro e somente estancar a passada quando ele,
generoso, a trouxer para si com delicadeza e a envolver na mansidão da espuma
marítima, porém, sempre lembrando que de uma hora para outra o folgado vento da
madrugada pode querer brincar de esconde-esconde entre ondas. Clarice aceita sempre a proposta da natureza
rumando ao seu lado e aprendendo diariamente como se comportar no curso de uma
Vida ao Ar Livre.

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