O dia entrou morno, vazio e
quieto o que causou espanto e ao mesmo tempo alivio porque eu acabara de
decretar para a minha conjugação de ser humano que estaria desalinhada a quem
quer que viesse bater na minha porta, na janela ou invadir meu jardim
distribuindo palavras ao vento, sorriso falso, companhia fortuita. Nada disso
se encontrava no meu radar hoje afinadíssimo e calmo. Vou permanecer alheia,
com cara de paisagem, olhando o horizonte se encontrando com o mar que, por
estar bem longe, nem perceberá minha presença, assim ficamos combinados que eu
vou imaginar que tudo se encontra de acordo com o meu desejo.
Desta feita vou embrenhar-me
por aquela picada selvagem de difícil acesso porque penso eu, somente desta
forma conseguirei me volatizar junto a este dia. Talvez eu resolva procurar
aquela casinha de pau a pique que eu mesma construí anos atrás na beira de um
riacho tão transparente e silencioso que ao assentar-me em sua margem uma onda
fresca respinga meu corpo elevando meus pensamentos para um lugar que só existe
na minha mente e que hoje busca apenas sobrevoar, pairar por aí pela história
como uma sombra.
Será neste lugar que irei
descarregar os pedregulhos que incautamente recolhi no caminho apenas pela
força do hábito de ter de carregar alguma coisa, enchendo os bolsos e os ombros
de um peso sem serventia. É certo que estas pedras não vão ajudar a erguer um
forno no pátio, nenhum muro de contenção para a bicharada não fugir, nenhuma
parede para o poço irá se erguer, nenhuma pedra servirá de contrapeso para o
maço de papel em branco que está na minha estante, não irá, tampouco, palmilhar
meu caminho de volta. Hoje eu colocarei as pedrinhas roladas em contraponto com
a leveza do meu espirito que resolveu evadir-se.

Nenhum comentário:
Postar um comentário