sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Desalinho

 


O dia entrou morno, vazio e quieto o que causou espanto e ao mesmo tempo alivio porque eu acabara de decretar para a minha conjugação de ser humano que estaria desalinhada a quem quer que viesse bater na minha porta, na janela ou invadir meu jardim distribuindo palavras ao vento, sorriso falso, companhia fortuita. Nada disso se encontrava no meu radar hoje afinadíssimo e calmo. Vou permanecer alheia, com cara de paisagem, olhando o horizonte se encontrando com o mar que, por estar bem longe, nem perceberá minha presença, assim ficamos combinados que eu vou imaginar que tudo se encontra de acordo com o meu desejo.

Desta feita vou embrenhar-me por aquela picada selvagem de difícil acesso porque penso eu, somente desta forma conseguirei me volatizar junto a este dia. Talvez eu resolva procurar aquela casinha de pau a pique que eu mesma construí anos atrás na beira de um riacho tão transparente e silencioso que ao assentar-me em sua margem uma onda fresca respinga meu corpo elevando meus pensamentos para um lugar que só existe na minha mente e que hoje busca apenas sobrevoar, pairar por aí pela história como uma sombra.

Será neste lugar que irei descarregar os pedregulhos que incautamente recolhi no caminho apenas pela força do hábito de ter de carregar alguma coisa, enchendo os bolsos e os ombros de um peso sem serventia. É certo que estas pedras não vão ajudar a erguer um forno no pátio, nenhum muro de contenção para a bicharada não fugir, nenhuma parede para o poço irá se erguer, nenhuma pedra servirá de contrapeso para o maço de papel em branco que está na minha estante, não irá, tampouco, palmilhar meu caminho de volta. Hoje eu colocarei as pedrinhas roladas em contraponto com a leveza do meu espirito que resolveu evadir-se.

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Banho de mar

  Engatei a marcha da resolução, pisei firme o pé na areia úmida e gelada seguindo com os olhos vidrados na maré vinda de alto mar até morre...