Quando eu percebi aquele homem
em meio a um vendaval congelante caminhando na beira do mar, hoje bravio,
fiquei pensando porque ele estaria enfrentando este tempo severo com passadas
firmes, sempre em frente, sem sequer pestanejar. A caminhada passava a
impressão de que havia um propósito, como se o sol estivesse brilhando a pleno,
a brisa quente revoltava seus cabelos, as roupas leves o deixavam seguir porque
o mar, o sol e o vento lhe favoreciam.
A realidade era diversa e talvez
não lhe tenha ocorrido que poderia se dar conta do erro cometido ao se jogar na
beira da praia enquanto acontecia uma grande revolta dos seus principais atores
e correr de volta para casa, rindo muito da ideia estapafúrdia de imaginar que
hoje o destino lhe traria bons ventos. Melhor entrar dentro de casa, ativar a
lareira, pegar um cobertor, uma touca de lã e ficar sorvendo um café preto bem
quente, de preferência sem nada pensar ou falar.
Refletindo sobre este
personagem que se jogou no tempo não se importando com o que poderia acontecer me
ocorreu que pode ter havido dentro de si um alerta que o compeliu para dentro
do frio e do vento, talvez uma inquietude aterradora, uma promessa, um
sofrimento atroz e assim sentiu esta compulsão de fazer estancar o que o corroía
por dentro e somente o enfrentamento a intempérie o faria retornar ao aconchego.
Não demorou muito para o clima
adverso ser derrubado pelo sol, amainando o vento, baixando suas ondas deixando
a beira do mar com suas espumas leves no vai e vem do areal. Percebi que, por
qualquer motivo, uma tempestade pode assolar nosso dia, porém, ela não tem o poder
de dobrar a espinha, arrancar o coração do peito, extrapolar o sofrimento
diário abandonando a nós mesmos. O destino adora um esforço.

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