sábado, 9 de agosto de 2025

Destino

 


Quando eu percebi aquele homem em meio a um vendaval congelante caminhando na beira do mar, hoje bravio, fiquei pensando porque ele estaria enfrentando este tempo severo com passadas firmes, sempre em frente, sem sequer pestanejar. A caminhada passava a impressão de que havia um propósito, como se o sol estivesse brilhando a pleno, a brisa quente revoltava seus cabelos, as roupas leves o deixavam seguir porque o mar, o sol e o vento lhe favoreciam.

A realidade era diversa e talvez não lhe tenha ocorrido que poderia se dar conta do erro cometido ao se jogar na beira da praia enquanto acontecia uma grande revolta dos seus principais atores e correr de volta para casa, rindo muito da ideia estapafúrdia de imaginar que hoje o destino lhe traria bons ventos. Melhor entrar dentro de casa, ativar a lareira, pegar um cobertor, uma touca de lã e ficar sorvendo um café preto bem quente, de preferência sem nada pensar ou falar.

Refletindo sobre este personagem que se jogou no tempo não se importando com o que poderia acontecer me ocorreu que pode ter havido dentro de si um alerta que o compeliu para dentro do frio e do vento, talvez uma inquietude aterradora, uma promessa, um sofrimento atroz e assim sentiu esta compulsão de fazer estancar o que o corroía por dentro e somente o enfrentamento a intempérie o faria retornar ao aconchego.

Não demorou muito para o clima adverso ser derrubado pelo sol, amainando o vento, baixando suas ondas deixando a beira do mar com suas espumas leves no vai e vem do areal. Percebi que, por qualquer motivo, uma tempestade pode assolar nosso dia, porém, ela não tem o poder de dobrar a espinha, arrancar o coração do peito, extrapolar o sofrimento diário abandonando a nós mesmos. O destino adora um esforço.

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Banho de mar

  Engatei a marcha da resolução, pisei firme o pé na areia úmida e gelada seguindo com os olhos vidrados na maré vinda de alto mar até morre...