domingo, 31 de agosto de 2025

Contas a pagar

 


Neste domingo ensolarado um certo incomodo me levou a não mostrar a cara além do meu quadrado, e, atropelada por este motivo bobo me lancei a examinar as minhas contas que estão todas arrumadas por assunto, dia, mês e ano em um gavetão que escondo embaixo da escada. Para minha surpresa assim que abri o lugar dos guardados a montanha de papel que eu esperava vislumbrar não estava exatamente onde as deixei me causando um certo calor e uma leve tontura de susto ao perceber que a gaveta dos quitados estava vazia.

Ativei minha memória afiadíssima aliás – desnecessário dizer o motivo – e comecei a lembrar quais dados participaram desta organização primorosa dos meus recibos da vida e que tive o pendor de deixá-los organizados e, deste modo fortuito, ter a oportunidade de revê-los. Fui puxando o fio para entender quais assuntos que eu pretendia me debruçar e estranhamente percebi que nenhum deles envolvia montante algum. Me dirigi a um móvel que possui muitos escaninhos, tal qual a minha alma, para verificar se por um lapso de organização eu havia depositado o que procurava por ali.

Ao abrir o primeiro compartimento me deparei com uma anotação que se referia a um bilhete do meu pai que prometia me dar uma bicicleta em mais um menos um ano. Lembrei comovida que esta divida havia sido quitada com honra por ele e, assim, recebi minha bicicleta nova de um tamanho para uma menina maior. Sorri e o guardei de volta.

Passei ao segundo escaninho e lá estava o meu diploma de formatura da Aula de Datilografia pendurado na parede de uma pequena peça em minha casa de infância que minha mãe havia montado para mim, constando de uma grande escrivaninha, uma maquina de escrever e um rádio de pilha. Foi ali que passei meu tempo de menina pequena, maior e já mocinha não cessando nunca de agilizar meus dedos em simples folhas de papel e cadernos. O incômodo da manhã me pôs de joelhos frente a Deus que me deu a Vida.

 

 

 

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