sábado, 2 de agosto de 2025

Bar imaginário

 


Vou sentar nesta mesa de bar que possui várias cadeiras vazias, uma vela enclausurada em vidro e um cinzeiro para que se houver consideração acolha qualquer cinza, desde a mais comum até as que estão em voga e que desconheço. Também pretendo colocar em cada assento que me admira com olhar pedinte, todos os meus pensamentos de agora que transitam sem compostura em uma desordem hermética dentro do meu corpo causando todo tipo de estrago formando uma dor, uma lágrima, uma tosse, um soluço, uma ferida, um desespero. 

Na primeira cadeira encontro a tristeza que me invade e surge solitária como a estrela da manhã que mesmo brilhando com intensidade não consegue reparar o rompimento da mente neste encontro inesperado. Eu a deixarei assentada para quando o bar fechar suas portas não tenha mais para onde se dirigir e assim se extinguirá por si só.

Na segunda cadeira me deparei com o falatório que se apresenta com uma prosa boba, uma conversa sem sentido, palavras fúteis jogadas ao vento como se folhas secas fossem não deixando nenhum rastro e nenhum ruído que as faça ter fundamento. Ali percebi a desconexão que paira no ar e que nenhum vento forte da encosta consegue derrubar.

Ocupei a terceira cadeira esperando que o bar ao abrir suas portas me apresente uma alternativa viável e que me dê esperança de travar uma batalha verbal incluindo palavras onde a frase tem sentido, o adjetivo e o substantivo têm sua personalidade preservada, a pontuação siga o rito e que o texto prescinda de ilustração que represente uma ação. Entrou em cena o desencanto que me entregou um rascunho de nada, me obrigando a fechar o Bar Imaginário.

 

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Belíssimo (e triste) conto a retratar esses tempos de futilidades e certezas estúpidas!

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