quinta-feira, 8 de maio de 2025

Protocolo antigo

 


O lenço branco de linho, finamente bordado era peça obrigatória no arsenal de toalete das moçoilas ao qual recorriam com frequência para se abanar do calor intenso, secar uma lágrima de amor, disfarçar a tristeza intermitente que verte dos olhos, servia também para disfarçar um sorriso fora de hora, uma vergonha qualquer ou um fingimento necessário em dado momento. A utilidade praticamente não tinha fim naquele tempo em que as emoções eram genuínas e muitas vezes contidas de forma corajosa por não ser, talvez, aquele o momento de expressá-las. Um tempo em que o anseio tinha dia e hora para acontecer.

As bordadeiras com mãos talentosas, algumas com os dedos encarquilhados de tanto manejar as agulhas com linhas finas de seda ou de algodão, se surpreendiam no encontro com a cartela de cores quase infinita encantando a faina das mãos habilidosas que, num relance de olhar apurado, escolhia qual o matiz que iria preponderar na criação da peça, esta, que já se encontrava em fulminante criação em sua mente.

A feitura da peça nascia com a personalidade de quem a iria envergar sendo desenhada em detalhe para que o sujeito ao percorrer as linhas bordadas se encontrasse de maneira imponderável.

Assim seguia o curso de tantas peças que foram caprichosamente alinhavadas e colocadas na vida para cumprirem com o destino de enfeitar uma roupa, servir de consolo na fragilidade de um momento, ser farfalhada sem dó naquela hora de grande ansiedade, servir de adeus para uma partida, pousar em uma pequena caixa preservando a mancha de lágrimas antigas. Um destino primoroso em tempos idos.


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