Nesta manhã calma e ensolarada
que anda dando uma pinta de mistério e traição é que resolvi colocar aquela
cortina num canto da janela. Somente naquele pedacinho da abertura porque por
algum motivo o que vem atrás deste pedaço da fachada não me enche os olhos, não
ilumina minha noite e muito menos me faz brilhar na luz do sol.
É um canto desprotegido que
invade as sombras do ambiente formando uma linha fantasmagórica e assustadora
que, na maioria das vezes, me dá uma sensação de alerta para um desmando altivo
que vem acompanhado da sensação de múltiplos olhares.
Percebo, na minha imaginação, olhos
ocultos que cintilantes vagueiam pela rua quando a noite já vai alta margeando
os galhos das árvores que pendem ao brilhante orvalho da noite, olhares
disfarçados que se abrem e fecham no ritmo das águas do córrego.
Me postei frente a esta janela
tentando desvendar o segredo dela em ser tão transparente neste cantinho tão
sem expressão, uma meia janela, um pequeno espaço que apenas completa a
arquitetura do ambiente. Pode ser que os meus olhos internos andam cansados e
opacos, talvez a íris com este lindo nome, estafada, resolveu se evadir do
globo ocular e correu para aparelhar olhos mais jovens, talvez eu esteja vendo
o que minha intuição anda esquecendo de apontar.
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