Estava tudo igual com a
pasmaceira dos dias passando, o sol nascia e descia com variação de tempo
conforme a estação, o mar com sua mutação incansável sempre à mercê dos
senhores do destino como a lua e o vento, estes, incansáveis no trabalho de
agitar a maré, brincar com o clima, zombar de quem necessita da parceria. Neste
cabedal de água salgada indomável o balé é coordenado pelo planeta.
A natureza estava dando o seu
recado, sem dúvida o mais fiel possível. Porém aos meus olhos havia algo
diferente, que não combinava com esta mesmice dos dias. De alguma forma aquele
mar ali estava bem desigual em sua essência e neste momento suas ondas estouravam
desencontradas num amontoado nunca visto e com um som ensurdecedor.
A partir desta observação surgiram outras, demonstrando
que algo havia mudado, as cores do dia estavam espetaculares, o verde das
árvores reluzia, os pássaros se aglomeravam frente a janela com a conversa mais
estridente que o tom monocórdio costumeiro. As flores brotavam de todos os
canteiros fosse ela de cultivar ou selvagem, enviando um recado que a terra
fértil do lugar se encontra na superfície de uma calçada, na beira do valão, no
cômoro, entre as pedras do caminho, cumprindo a sina de brotar sem hesitar.
A impressão era de que todas
as cores da vida haviam se renovado de um momento para outro. Alguém lembrou
com sabedoria que, vez ou outra, nos sentimos como dentro de um fio sem
abertura, sem luz, sem saída. Mas neste dia o modo de fio desencapado vigorou
no assombro de refazer o destino.
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