Luiz Fernando andava na rua sem destino certo
com a cabeça empoeirada de assuntos novos e velhos embaralhados e o que mais
assustava a ele eram os novos com ar de antigos. Do nada tropeçou em uma
escadaria que estava fora de contexto no seu entender, no meio da calçada - que
cá entre nós não tinha a menor simetria - o que era comum nesta capital. Talvez
em outras fosse assim, mas aí, ele não tinha conhecimento. O nariz se empinou
porque um forte cheiro de naftalina invadiu a rua insuflando suas narinas que o
guiaram escada acima entrando com frenesi no ambiente altivo de uma loja com
incomum variedade.
Mas era muita cara de pau estas vestes e
objetos d’antanho se aglomerarem na beirada do passeio público, interpelando o
gajo que até agora mantinha certa postura frente ao tempo presente tentando se
livrar de moscas varejeiras do passado que o circundava sem dó nestes dias. Parecia
ser sempre a mesma coisa, mas, na aurora deste dia ensolarado ele vingou à rua
com uma jovialidade incomum causando certo espasmo nos pensamentos e uma
delicada euforia que não lhe era habitual. Nem deu tratos à bola para entender,
melhor mesmo seguir como se o mundo fosse acabar.
Nada influiu neste pequeno revés do iniciar do
seu dia, porém, não lembrou o motivo pelo qual se jogou à rua sem planejar. Deu
uma paradinha no caminho, fez uma careta indagativa e logo esqueceu sequer o
que havia lhe ensejado o breque.
Passada a pequena loja que lhe confundiu os
neurônios, Luiz Fernando retomou seu caminho procurando com muita curiosidade os
estabelecimentos que frequentava, mas, por algum motivo não os encontrava.
Lembrou-se do cheiro da naftalina e imaginou que talvez aquela droga tenha lhe
afetado a direção, ou anuviado seus pensamentos que até então estavam bem
vivos. Tinha uma sensação vaga da direção, mas é normal na idade se atropelar
em assuntos, lembranças e imagens. Não se preocupava porque sentia que sua
mente, suas lembranças estavam como fio desencapado, livre de amarras e que ele
era o senhor dos seus passos e de sua mente o que lhe confortava por demais.
Seguiu lépido pelas ruas desconhecidas não se
importando com horário até mesmo porque percebeu certa celeuma na contação de
ponteiros, se irritou com esta intervenção e resolveu de si para si relegar em
segundo plano o passar das horas. Alguns ponteiros marcavam uma hora que ele
não conseguia reconhecer e assim decidiu não se importar, pois sua alma lhe sugeria
os minutos dos quais ele podia prescindir.
De repente surge em sua frente uma moça muito
bonita, com olhos azuis da cor do céu envergando uma roupa de verão muito leve
chamando a atenção para uma aparência doce, silenciosa, porém firme. Ao mesmo
tempo em que seu perfume inebria Luiz Fernando um abraço muito carinhoso o
conduz de volta.
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