domingo, 13 de março de 2022

Silêncio

É sempre o tempo que vem me avisar que ora em diante as coisas terão outro jeito, outro ritmo, outra luz e um olhar que fatalmente vai sofrer uma metamorfose geral e por este motivo fútil coloco a postos olhos e ouvidos para enfrentar a inversão de tudo que anda ou para por aqui, a começar pelo clima, este cara temperamental e dado a paixonites, muitas vezes contrárias ao que se espera. 

De uma maneira geral o Rei Sol se acomodou em sua luz que anda resvalando com preguiça nos amanheceres mais gelados e a brisa trêmula fica sem saber para que lado se dirigir e, por vezes, desistindo de se movimentar por sentir que as coisas entrarão sem duvida em modo lento onde praticamente tudo perdeu força, perdeu terreno, perdeu ímpeto. 

A resposta para este modo de coisas, para este jeito aparvalhado dos dias é um monumental silêncio que se torna agora o principal sujeito no entorno por ter ele sido desdenhado com voraz audácia pelo alarido contumaz de uns e outros, ocasionando um verdadeiro entulho engavetado que promoverá verdadeira inversão na busca da desocupação do espaço. 

Todo dia somos convidados a receber em nossa casa o sigilo, este cara simplório, quase transparente e tão tímido que quase não se percebe a presença. Entra de mansinho com pés de lã na busca de uma conquista quase inglória nos gogós balbuciantes de uma lorota ou outra. Apresenta-se como um rei e comanda a mente com um olho invisível, certeiro e precioso. Por mim sempre será bem recebido e agraciado com muda reverência e esforço para gelar o som, limpar a área de alarido fazendo certa graça com o ar soturno instalado com critério e paciência afastando os invasores da calma.

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