sexta-feira, 11 de março de 2022

Conto marítimo

 

Acontece sempre a mesma coisa com as andantes Amarílis e sua irmã mais nova quando o sol desponta na linha do horizonte, exatamente no limite entre o céu e a terra para onde se deita o olhar sonolento. De mãos dadas, na maior parte do tempo, parece a quem as observa, que existe uma aura de receio ou medo talvez, de se perder entre as areias fugazes dos cômoros itinerantes, ou tropeçar nas tocas escondidas que, por ora, usufruem de relativa tranquilidade no diligente ir e vir em meio às espumas da beira do mar. 

Seguem sôfregas tendo a frente uma variada lista de aventuras, algumas desejadas, outras apenas cogitadas e outras ainda incógnitas e é este motivo que as deslumbra desde o amanhecer até o ultimo suspiro do sol em seu reinado diário sendo que tudo isso acontece por elas terem dentro de si o espírito curioso que acaba sendo o sal da vida delas. 

O passeio sempre inicia junto à imensidão do mar tendo o cuidado de observar se o dito cujo está de bom ou mau humor. Este detalhe permanece sempre como uma interrogação porque as duas sabem que o clima junto com seus comparsas, as nuvens, o vento, o sol e a chuva podem repentinamente se aliar e iniciar uma revolta na previsão meteorológica, talvez até, imaginam elas, para exercer certo deboche a esta rotina das duas irmãs de se colocarem a pé mal a primeira luz surge. 

Neste dia ensolarado e quente, já na rua, Amarílis foi tomada por um sentimento de aventura praticamente se desvencilhando, sem perceber, da viração receosa a qual tanto preza em dias comuns e observou que não era um dia banal e lá se foram as duas de mãos dadas enfrentar um caminho que invade o oceano com coragem e determinação, apesar do vai e vem de ondas profundas, que – neste dia – não causaram nenhum temor àquelas duas que simplesmente engataram a marcha parecendo ter asas nos pés. 

A distração de suas cabeças sonhadoras as cegou e assim não perceberam às suas costas a transformação do então céu de brigadeiro em uma ameaça real da turminha formadora de nuvens que adora brincar de quem vai assustar mais, derrubando o clima ameno e enredando aquela passarela no mar revolto. 

Se os olhos não conseguiram enxergar o que estava por vir, os ouvidos se fizeram atentos para o surdo barulho do vento revoltando as águas até então pacíficas, descabelando os longos fios de cabelo de Amarílis e jogando ao longe o chapéu da irmã. Ao resolver aparar as asas nos pés e corrigir o olhar para o entorno verificaram que já se encontravam frente ao abrigo da plataforma e assim foram rapidamente resgatadas pelos pescadores frequentadores diários do lugar. Amarílis e sua irmã caíram das nuvens ao confirmar a distração fora do “script”.....

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