quarta-feira, 21 de abril de 2021

Sorriso emprestado

 

Resolvi pegar aquele sorriso emprestado que passou como se ele estivesse cravado para todo o sempre naquele rosto que também rescindia a uma alegria bem antiga, com uma formação mais inusitada e orgânica que ao invés de transparecer o cinzento que delicadamente lhe ia por dentro, ressaltava uma vivacidade reluzente através de uma testa iluminada, bochechas rosadas e nariz empinado o que concordei que estava muito bem posto neste retrato que descobri por acaso nas gavetas semiabertas da história contada. 

Foi desta maneira que hoje pela manhã adotei o comodato inusitado que parte para fora de si, do corpo, da alma, e me arvorei a utilizar esta tática como se minha fosse e sair por ai palmilhando com pressa o que acontece ou o que pode acontecer através desta marca ilustrada e incorporada. Quem sabe por detrás da uma suspeita surja a verdade, atrás de uma traição um pedido de socorro e pode também o acaso vir a bater na porta e encontrar tudo desarrumado e assim de surpresa em surpresa do desarrumo, o arranjo poderá aparecer feito este sorriso que pedi emprestado. É de outro tempo, mas vale de qualquer forma. 

Com esta careta que brilha mais que fogo-fátuo tenho absoluta convicção que vou encontrar a velharia escondida pelos cantos louca para levar um bom lustro de atualidade, as biografias amareladas e carcomidas pelas traças implorando por restauradores compadecidos com o que não se pode deixar esfarelar e assim, vem vindo ao encontro desta cara colorida que me veste tudo o que se acha na fila do descaso. Comprometida resolvi encarar o desafio e coloquei tudo em pratos limpos e na gaveta da rotina adequada e assim que completei o serviço devolvi o Sorriso das Antigas que, por necessidade, tive que pedir emprestado ao tempo passado.

Nenhum comentário:

Papelaria em dois tempos

  Não sei quem me encontrou primeiro, se aquela papelaria antiga ou eu, que ando gastando a sola do sapato atrás de quinquilharias que lembr...