terça-feira, 13 de abril de 2021

Maré

 

Aproximei-me da beira do mar no dia em que a maré vinha lamber os cômoros e as muradas que andam sempre com ar derrubado porque a natureza é implacável e busca de volta o seu lugar de origem - detalhe que gosto muito de observar. E assim, vem levando tudo que lhe passa pela frente e volta deixando os trastes e traços de qualquer coisa que não lhe pertence, se igualando a caminhadas sem destino em que devolvemos ao vento os efeitos do que não nos cabe transportar. 

Parece um pouco de exagero imaginar que nas planícies sem fim da memória os perdidos e achados se equivalem ao espaço que por ora e por hoje lava-se inteiro com a espuma do oceano que fica no vai e vem brincando com todos os praieiros da gema e moradores das entranhas do quebra mar. 

No embalo das ondas – literalmente – a mente flutua em busca dos perdidos, porem, como o vagalhão que vem com força, passando a limpo o caminho, aos arrastados é negada a aparição pelo simples fato que já foi distribuído ao ostracismo do sem importância, sem registro e sem noção. 

Nesta praia limpa e lavada do entulho do fundo mar somente aportará o barco com remos fortes e proa apontada para o horizonte que se junta ao oceano profundo iluminando o destino que está sempre ali ao alcance da vista.

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