sábado, 6 de fevereiro de 2021

Como se fosse

  

Queria que fosse sempre assim, que eu estivesse sentada à deriva, olhando para longe com desejos de não estar ali e provavelmente em lugar nenhum mesmo bem abrigada de um suposto vento frio que teima em se ausentar - por hora - nos lados tropicais da vida e o toque colorido lembrou-me que é bom dar uma animada no momento presente e pintar de cor de rosa choque o futuro. 

Porém sempre tem um bafo na nuca imperceptível como se fosse uma brisa suave que nasce do quadrante errado naquele dia, e vem se amortecer nos arredores parecendo querer lembrar que ainda não se desanuviou o tempo do descalabro de tantas palavras vãs, de tanto verbo jogado ao vento norte, de tanto adjetivo que se esfumaça como maresia no amanhecer de verão desaparecendo como por milagre da minha frente, ou do meu lado. 

O livramento se deve a estoica luta para liberar o espaço que confundiu verdade com mentira, amizade com interesse escuso, parceria com traição simples e certeira deixando meu entorno agora liberto para ser o que deve ser seja lá o que isso quer dizer ou significar. 

A varredura veio até mim como uma ressaca braba do mar que sem dó nem piedade arrasta o que lhe aparece pela frente alisando como cetim as areias praianas, lambendo o chão de quem se atreveu a pisotear e ferir, arrumar o que estava desarrumado deixando assim que os novos ares calmos que soprarão tenham alternativa de ajeito e peremptória vontade de, hora em diante, acertar. Quem sabe menos cinza e mais cor de rosa.

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