segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Por fora

 

Corre por fora e a boca pequena que está em andamento aquele carregamento de trastes praianos que invadem o território todo santo ano, ou desdito calor de época. Serve empilhar a massa inútil no porta-malas, na caçamba do caminhonetão, no engate, o que for. Parece não haver lugar para depositar tanto apetrecho que temporada vai, temporada vem, segue a trilha do asfalto para se escarrapachar na areia bagunçando o coreto que vai das ágeis tatuíras até os risonhos golfinhos, lobos do mar e botos, estes, mais carrancudos, mas cara feia é serventia da casa e ignorada solenemente, assim o pisotear segue como mantra uníssono da massa estabelecida a trair todas as regras. 

Urge que carreguem no bagageiro extra, na bolsa, na sacola de praia, na mochila os maus modos que os trouxeram até o areião principalmente em momentos mais delicados onde tudo o que é parece não ser e vice-versa. Ontem pairava no ar a maresia bem vinda ao amanhecer dos dias cálidos de início e fumegantes ao largo do passar do tempo incendiando a mufa de muitos e poucos optando por salvar-se ou, pior ainda, sequer conseguindo correr por fora. 

Há muralhas invisíveis em todo o lado lavradas no cáustico dilema entre o bem e o mal gerando controvérsia que vai então unindo o amontoado que se estabelece sem e com razão que até a própria causa desconhece. Chega ao fim o período sem lei, aborta-se de pronto todas as inutilidades que o calor cria, vão para o fim da linha as urgências descabidas e de ocasião, dissolve-se a importância do desimportante e faz-se a escuridão no mal feito. 

A luz ainda é muito fraquinha e não consegue assim, tão repentinamente – não tardiamente – alumiar os velhos caminhos que por ora estão livres para que a normalidade se estabeleça minimamente. A cada temporada que passa tudo ou quase tudo tem de ser revisto, consertado, limpado, lavado, renovado. Assim é bom demais levantar a cabeça, lavar o rosto e mostrar os dentes em belo sorriso ao sol de cada dia que volta a nascer apenas para quem fica. Voilá!

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