terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Caluda

 

Veio assim como uma bela manhã de inverno que ao se atrasar propositalmente a mostrar sua luz vem tateando centímetro por centímetro a Terra, fazendo quase que de propósito um retardamento na clareação do mundo do tempo, que, desta feita, vem frio, gelado condicionando o corpo e a mente ao recolhimento e porque não dizer inspirar a todos um pouco de timidez e o ver e ouvir abaixo, a menos ou nada. 

Foi uma surpresa encantadora perceber que por qualquer motivo eu, meu entorno e mais uma dezena de fazedores de barulho indeterminado de causa, mas, com certeza, com muito efeito, nesta manhã preguiçosa restou muda. Deu-me a impressão que alguém soprou um “Mandrake!”, ou “Estátua!” ou “Vaca Amarela” que com toda a pompa e circunstância dos ditos antigos teve uma obediência ao comando. Nada como uma volta ao passado remoto para obter pérolas brincalhonas que induz ao sorriso imediato, ao abrir e fechar os olhos para lembrar melhor e um relaxar cativante do esqueleto que se dá conta, afinal, que existe por ai segredos muito bem guardados e prontos para agir com sedutora eficácia. 

Eu acredito que o tempo resolveu dar uma parada estratégica no barulho do mundo utilizando as brincadeiras de criança já esquecida pelos adultos de hoje e sequer reconhecida por outros da atualidade ficando a “caluda” entre nós como uma sombra. A companhia desta moça com nome também antigo a lhe denominar apareceu bem na hora correta, quando os ruídos já não conseguiam mais se fazer audíveis pela forma desconexa com que se manifestavam. 

A natureza, que não dá ponto sem nó, entrou na brincadeira, os ventos mudaram de quadrante com rapidez incrível atazanando o mar que ditava as regras com fúria, as nuvens desciam tanto que anuviava todas as formas de vida naquele lugar. A bicharada arregalou os olhos e se aquietou assim como a cachorrada de rua ficou abichornada. Foi por um instante apenas que todo este imbróglio aconteceu bem na minha frente. Nada mau para um ensaio de desejos secretos.

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