quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Do avesso




Sinto-me do avesso em muitos e muitos dias parecendo que esta condição adere-se a mim, vez ou outra, sem que eu possa identificar a causa. Vai ver que a minha composição de ossos, carne e sangue, por fora, não anda lá estas coisas, mas depois, fico pensando que a que está por dentro deve estar para lá de “Marraquesh”. Mas, vá lá, melhor imaginar que tudo segue em bom estado e dentro da Lei de Deus, óbvio.

Por carregar esta aflição de ser outra e não eu, fico na escuta do que possa ocorrer se me quedo assim, avessada, com as entranhas de fora, passeando por ai e mostrando a todos minhas verdades, mais, muito mais que internas e íntimas.

Esta visão de mim deste jeito travesso me dispõe todas as desculpas para que eu possa levantar e seguir no rumo não desenhado que tracei para mim, este jeito de olhar para fora sem enxergar, de ver as gentes e não senti-las de fato, uma vez que as vozes de lá e de cá andam parafraseando tudo e com tantos matizes que meu cérebro, agora do lado avesso, as repele.

E, por estar arrevesada e gostando deste estado minimalista a “A La Salvador Dali” vou desagravando tudo o que me passa pela frente com a lente do absurdo empunhada com gosto. A envergadura me faz um grande favor porque a tendência de quando se tem o corpo aramado de normal face às irrelevâncias costumeiras é relativizar, perdoar, achar que não é bem assim e talvez virar a cara e a página.

Por ora, me quedarei neste torpor do avesso, senão para assombrar o inimigo que não consegue mais me ver de fato, mas talvez pela irrecusável diversão!


Um comentário:

Helena Maria Duarte disse...

Simplesmente bela!

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