domingo, 12 de julho de 2020

Para tudo que eu quero descer



Para tudo que eu quero descer, e não importa do que ou de onde pretendo apear. A primeira ideia foi descer do salto, mas não faz meu feitio vociferar ou fazer estardalhaço quando há desconforto e, juro, desta feita ele anda coexistindo e se espalha em todos os patamares. Na verdade prefiro sempre um sorriso de desdém que sequer mostra os dentes e uma passada com nariz levantado também pode funcionar muito bem. O problema que estes subterfúgios não estão dando conta do que me aparece.

Pensando melhor, já me foragi de um tempo onde a – ou as – máscaras eram tão triviais que se tornaram invisíveis porque para cada situação do trabalho, de amizade, de família e outros exigia que vestíssemos aquela carapuça que conforme a ocasião deveria ser de obediência, de disciplina, de coragem e tantas outras atitudes que na verdade não estavam muito acertadas dentro da gente. Mas era necessário e assim foi cumprido. Porém, chegou o dia em que percebi que eu podia me autorizar a desvesti-las. E assim foi feito.

Da mesma forma chegou a mim a necessidade premente e furiosa de me livrar de excessos de toda ordem, aliás, conselho de todos para todos que não se deve extrapolar em nada, que - em e para tudo - tem que se ter equilíbrio.  Decidi que também era chegada a hora do desequilíbrio e estanquei o mando das gentes. Deste jeito passei os últimos anos re-arrumando a vida. Por sinal não foram apenas objetos realocados. De tudo um pouco.

Aconteceu o que se podia imaginar, envelheci limpa, leve como uma pluma, fagueira andando por aí, brincando com as letras, “inventando moda” - como se diz - e tendo que administrar uma “vidinha”, diriam alguns. Para mim, uma benção, mas, eu trabalhei para isso.  Ontem, olhando para o mundo como se eu estivesse fora dele dei-me conta que não consigo mais encontrar as facilidades que batalhei e incorporei à minha vida e a mim mesma. Como assim? Para tudo que eu quero descer.

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