domingo, 12 de julho de 2020

Código de barras



O desconhecido nunca se apresentou formalmente, mas eu sei que ele está ali à espreita como um fantasma, porém nunca lhe dei credito, justamente por me ser escondida sua personagem. Como vou dar ouvidos a quem não conheço, como vou certificar o que apresenta se não vejo suas raízes, a cor dos seus olhos, o som de sua voz e, claro, o calor do seu abraço e, por fim, sua presença cobiçada ansiosamente. Como vou.

O ignorado se apresenta como um dia em que tudo é duvida em relação ao clima, que rapidamente se muda para uma cor cinzenta, nubla furioso e negro para depois, rindo fazer a mutação para o sol, não sem antes derramar suas chuvas em um jogo de esconde-esconde que nunca podemos lhe adivinhar os humores. Nem os craques.

Um incógnito nunca comparece com um código de barras e por este motivo vai entrando na nossa vida sem que nos apercebamos de imediato, porém, diz a lenda, que os fulanos ficam por ali cercando, mudos e atentos como se nada fossem ou como se seu significado de presença fosse irrelevante.

É com o pote cheio de boas expectativas que se espera sentado o apoio, atenção, receptividade, amor e respeito dos que se dizem próximos quando orgulhosos bradamos nossas façanhas através de dizeres particularíssimos e que são limados à exaustão para que se apresentem dignos a quem é destinado. A espera acaba sendo vã, porque muitos dos ditos com excelentes códigos de barra à mostra nos vira as costas, finge que não vê, torce o nariz aos detalhes, estas minúcias que fazem toda a diferença, porque pode vir dali uma autorização, uma lembrança boa, uma esperança, enfim.

Com certo encabulamento tenho que dar a mão à palmatória aos ilustres desconhecidos que sem código de barra passaram pela catraca da minha vida e a povoaram de comentários, de compartilhamentos e de parabéns sabendo eu agora com quem posso contar. Antes tarde do que nunca.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nelson Pafiadache da Rocha Parabéns por mais este excelente texto prezada amiga. Impecável em tudo. Obrigado por mais este presente. Um abraço!

Anônimo disse...

Leonardo Leiria Vera, prezada: o último parágrafo de teu texto deveria ser emoldurado e colocado na sala principal da Academia Brasileira de Letras.....é monumental!!!!!! Parabéns.

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