quarta-feira, 8 de julho de 2020

Para poucos, muito poucos



Os papéis estão rôtos, as canetas sem tinta e o lápis sem ponta. Não há resma de papel, tinteiro ou apontador que dê conta da faina criadora dos escreventes que por qualquer motivo ou – nenhum – se atiram em suas mesas de trabalho, em seus cadernos de rabiscos, nos guardanapos dos bares, no ar e até nas paredes, conforme o caso. A areia da beira da praia serve para anotações mais insólitas e que acabam sem serventia porque as espumas praianas varrem delicada, e com muita honra as inconfidências provocadas pelo arroubo dos escritores.

A cabeça, para eles, é um acessório mirabolante, é uma fabrica de fazer causos e todo dia partem para a luta insana de grafar com capricho o encadeado de letras utilizando os elementos que a vida fornece, ou para outros, o inferno que lhe vai por dentro. Muitos concluem que a única saída para o sofrimento da vida é frisar em negrito tudo o que se passa pela frente, pelos lados e também por detrás de sua vista. Ali estão sendo bem ditas as suas verdades e como missioneiros de historias - bem ou mal contadas - vai em frente a alvoraçada turma da caneta.

Os pensamentos guerreados em surda intimidade ganham o mundo e tem em sua origem a expectativa de sucesso ao cair no colo de todos que flanam nas beiradas do que se diz, do que se ouve e, principalmente, do que se escreve. Ao derredor dos letreiros garrafais - ou nem tanto – pululam todas as mentes.

Ali estão todos reunidos para interpretar com um capricho próprio o que lhe sugeriram ou, no mais das vezes o que lhe fronteou os olhos. Os recados escondidos dentro destas missivas vão abalroando todo tipo de gente, desde o mais inculto ao mais douto. Todos levam as letras enredadas para dentro de si e hão de se confrontar com suas próprias ideias e instrução passando pelo corredor atravancado dos sentimentos vis como a inveja, a covardia e a ignorância. Para poucos, muito poucos.

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