Minhas avós tinham
convivência bem próxima comigo, meus irmãos e meus primos o que deixava a vida
movimentada porque em sendo as duas a conviver, as semelhanças e diferenças se
misturavam sem nem a gente perceber. Na verdade o amor e o respeito por elas se
adiantava em tudo o que a gente quisesse ousar fazer ou dizer. As casas eram
distantes e por isso mesmo sempre uma aventura deliciosa se lançar à visita
daquela que ficava mais longe.
A minha avó paterna era moderna,
altiva e elegante. Dominava o clã com maestria. Morávamos em casas lado a lado
com portões dos jardins que davam acesso aos meus primos. Quando lembro destes
jardins impecáveis parece-me que vivi um conto de fadas, tal o vai e vem que
durava o dia inteiro, nossa grande ocupação afora os estudos. Em cada casa
havia uma história e ritos diferentes porem semelhantes. Da minha sala de
estudos eu tinha a janela que me dava a oportunidade de ver minha avó me chamar
para o café da tarde o que fazia de um salto. A cozinha, grande, com decoração
absolutamente combinada de móveis, utensílios de cozinha e que tais me deixavam
de olho arregalado. Afora isso o interior da casa era de prender a respiração e
me deixava de certo modo com receio de tropeçar e esbarrar em algo e assim eu
evitava circular por lá.
A minha vó materna era
calada e suave, simples em tudo que lhe dizia respeito, sua casa, para mim,
tinha um ar de história a ser contada, de segredos não revelados, de móveis de
ancestrais, quiçá. Ao chegar lá, quase sempre sozinha a encontrava de enxada na
mão rescendendo a tanino revolvendo seu rustico jardim e meu sentido era de
curiosidade para me aventurar por um porão que rescendia a umidade e dava
calafrios, uma taquareira que me assombrava pela possibilidade de ali existirem
cobras. Lembro que eu amava andar por ali, pé ante pé com o coração na boca de
medo, um medo infantil delicioso, pois havia um misto de verdade e de ilusão. A
proposito da comida, que criança sempre tem de se deparar, principalmente por
seus avós, foi ali, criança pequena que conheci o “à la minuta” devidamente
embalado pelas ondas de um radio ligado na Farroupilha.
Amo pensar que eu tenho
delas as duas partes dentro de mim. Estão separadas e aparecem nitidamente no
meu dia a dia, seja na maneira de se comportar, de comer ou da arrumação da casa, tendo o privilégio de colocar ao meu redor objetos que pertenceram às duas.
2 comentários:
Queridas e inesquecíveis avós...
Que lindas lembranças, colocadas com a alma neste texto maravilhoso.
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