domingo, 26 de julho de 2020

Minhas avós



Minhas avós tinham convivência bem próxima comigo, meus irmãos e meus primos o que deixava a vida movimentada porque em sendo as duas a conviver, as semelhanças e diferenças se misturavam sem nem a gente perceber. Na verdade o amor e o respeito por elas se adiantava em tudo o que a gente quisesse ousar fazer ou dizer. As casas eram distantes e por isso mesmo sempre uma aventura deliciosa se lançar à visita daquela que ficava mais longe.

A minha avó paterna era moderna, altiva e elegante. Dominava o clã com maestria. Morávamos em casas lado a lado com portões dos jardins que davam acesso aos meus primos. Quando lembro destes jardins impecáveis parece-me que vivi um conto de fadas, tal o vai e vem que durava o dia inteiro, nossa grande ocupação afora os estudos. Em cada casa havia uma história e ritos diferentes porem semelhantes. Da minha sala de estudos eu tinha a janela que me dava a oportunidade de ver minha avó me chamar para o café da tarde o que fazia de um salto. A cozinha, grande, com decoração absolutamente combinada de móveis, utensílios de cozinha e que tais me deixavam de olho arregalado. Afora isso o interior da casa era de prender a respiração e me deixava de certo modo com receio de tropeçar e esbarrar em algo e assim eu evitava circular por lá.

A minha vó materna era calada e suave, simples em tudo que lhe dizia respeito, sua casa, para mim, tinha um ar de história a ser contada, de segredos não revelados, de móveis de ancestrais, quiçá. Ao chegar lá, quase sempre sozinha a encontrava de enxada na mão rescendendo a tanino revolvendo seu rustico jardim e meu sentido era de curiosidade para me aventurar por um porão que rescendia a umidade e dava calafrios, uma taquareira que me assombrava pela possibilidade de ali existirem cobras. Lembro que eu amava andar por ali, pé ante pé com o coração na boca de medo, um medo infantil delicioso, pois havia um misto de verdade e de ilusão. A proposito da comida, que criança sempre tem de se deparar, principalmente por seus avós, foi ali, criança pequena que conheci o “à la minuta” devidamente embalado pelas ondas de um radio ligado na Farroupilha.

Amo pensar que eu tenho delas as duas partes dentro de mim. Estão separadas e aparecem nitidamente no meu dia a dia, seja na maneira de se comportar, de comer ou da arrumação da casa, tendo o privilégio de colocar ao meu redor objetos que pertenceram às duas.

2 comentários:

m.reginasouza68@gmail.com disse...

Queridas e inesquecíveis avós...

Helena Maria Duarte disse...

Que lindas lembranças, colocadas com a alma neste texto maravilhoso.

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