quinta-feira, 30 de maio de 2019

Via Láctea por Nelson Pafiadache da Rocha



Após inspirar-me na Via Láctea de Olavo Bilac, da sua inquietude de então, juntei com a minha de agora para imprimir nos braços abertos da internet aquilo que o cenário nacional nos aguça. Dei corpo e alma, mas faltava algo mais, pois precisava vestir-se bem para lançar-se ao Mundo. Eis que surge uma fada-madrinha que o veste com roupa de gala. Esta costureira das letras que tão bem as tece oferta mais um pouco de si, como tão bem acostumados estão os leitores deste espaço. Por Nelson Pafiadache da Rocha

Via Láctea (Olavo Bilac)

“Ora (direis) ouvir estrelas!
Certo perdeste o senso!”E eu vos direi, no entanto,
 “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas”.

          E eu vos direi, entretanto,  que não perdemos o senso, apenas nosso pleito parece que não é terreno porque falamos e não nos escutam, porque, aparentemente perderam eles a noção. E eu vos direi, no entanto, que não daremos trégua, que lutaremos, que gritaremos, porque a órbita de quem não nos ouve é terrena e de fato prestam atenção  mas fingem que não,  porque não anseiam por nossa crença.. Perdeu o senso e muito mais, também a vergonha, a decência e a honra, porque foram engolidos, carcomidos e tragados pelo vil metal conquistado sem esforço, apenas tendo enunciado o seu preço.

          Claro, que essa gente sem discernimento vale quanto pesa e descontado o vestuário de luxo, gravatas e ternos importados, valem menos que um par de meias de camelô. Eles não têm decência para vislumbrar o legítimo, apenas proliferam o que lhes interessa: conluios, tramas e trambiques, no Plenário, na Tribuna e também no Átrio. Por lá ninguém é virgem.

          Nossa Virgem Maria que nos acuda e peça ao Senhor que coe uma réstia de luz nestes privilegiados, ou ao menos, as estrelas, pois lá pousa nossa crença, nossos ideais e as nossas esperanças. É para lá que olhamos em prece, reza forte, clara e uníssona, para que muita coisa mude na vida dos miseráveis, dos desempregados e também dos jovens que se pensam maiorais. Para que mude a visão dos iludidos que acreditam que outro mundo possa ser possível sem algum sacrifício, renúncia, idolatria, ativismo e até volúpia.

          Ora direis, homens do Poder, sem coração, perdestes o senso e, se não ouvem as estrelas, não podeis ouvir seus semelhantes, menos ainda podeis amá-los e com menor probabilidade a nós, que denunciamos as mazelas que se avolumam  e aviltam, que engrossam as massas de manobras em movimentos espúrios. No lado a lado da trama sórdida muda-se o costado conforme a banda ladina e seus iguais, porque na calada da madrugada – todos os gatos são pardos – e deste modo, para a massa, a verdade se oculta.

          Seguem lépidos e faceiros nos folguedos do Momo, de Caruaru ou onde estão as ditas bases que nunca lhes colocamos os olhos e, verdade se diga, existem outras rotas que jamais tomaremos ciência e que estão sob as expensas de quem não perde o senso.

           Ora – direis - ouvir estrelas! Perdeste o senso e eu vos direi: amai para entendê-las, pois só quem ama tem ouvido capaz de escutar e de entender estrelas, porque elas falam para nós, nos dão alento, nos tocam a alma e nos fazem humanos, porque a isso nos candidatamos e percorremos grandes distâncias para vencer, com empenho, até para além do suportável. Enquanto vocês, reflito, arruinaram o senso de tudo, mas isso logo muda e seremos felizes, não só porque vocês morrem um pouco a cada dia pelo nosso olhar, orientado por quem está acima das estrelas e a tudo vê, desde os nossos sonhos, as nossas esperanças e o nosso amor incondicional e por tantos que precisam de alento, porque sabemos que só quem ama, respeita o homem e pode ouvir e entender as estrelas!



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