Após
inspirar-me na Via Láctea de Olavo Bilac, da sua inquietude de então, juntei
com a minha de agora para imprimir nos braços abertos da internet aquilo que o
cenário nacional nos aguça. Dei corpo e alma, mas faltava algo mais, pois
precisava vestir-se bem para lançar-se ao Mundo. Eis que surge uma
fada-madrinha que o veste com roupa de gala. Esta costureira das letras que tão
bem as tece oferta mais um pouco de si, como tão bem acostumados estão os
leitores deste espaço. Por Nelson Pafiadache da Rocha
Via
Láctea (Olavo Bilac)
“Ora
(direis) ouvir estrelas!
Certo
perdeste o senso!”E eu vos direi, no entanto,
“Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode
ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas”.
E eu vos direi, entretanto, que não perdemos o senso, apenas nosso pleito
parece que não é terreno porque falamos e não nos escutam, porque,
aparentemente perderam eles a noção. E eu vos direi, no entanto, que não
daremos trégua, que lutaremos, que gritaremos, porque a órbita de quem não nos
ouve é terrena e de fato prestam atenção
mas fingem que não, porque não
anseiam por nossa crença.. Perdeu o senso e muito mais, também a vergonha, a
decência e a honra, porque foram engolidos, carcomidos e tragados pelo vil
metal conquistado sem esforço, apenas tendo enunciado o seu preço.
Claro, que essa gente sem discernimento
vale quanto pesa e descontado o
vestuário de luxo, gravatas e ternos importados, valem menos que um par de meias
de camelô. Eles não têm decência para vislumbrar o legítimo, apenas proliferam o
que lhes interessa: conluios, tramas e trambiques, no Plenário, na Tribuna e
também no Átrio. Por lá ninguém é virgem.
Nossa
Virgem Maria que nos acuda e peça ao Senhor que coe uma réstia de luz nestes
privilegiados, ou ao menos, as estrelas, pois lá pousa nossa crença, nossos
ideais e as nossas esperanças. É para lá que olhamos em prece, reza forte, clara
e uníssona, para que muita coisa mude na vida dos miseráveis, dos desempregados
e também dos jovens que se pensam maiorais. Para que mude a visão dos iludidos
que acreditam que outro mundo possa ser possível sem algum sacrifício,
renúncia, idolatria, ativismo e até volúpia.
Ora direis, homens do Poder, sem
coração, perdestes o senso e, se não ouvem as estrelas, não podeis ouvir seus semelhantes,
menos ainda podeis amá-los e com menor probabilidade a nós, que denunciamos as
mazelas que se avolumam e aviltam, que engrossam
as massas de manobras em movimentos espúrios. No lado a lado da trama sórdida
muda-se o costado conforme a banda ladina e seus iguais, porque na calada da
madrugada – todos os gatos são pardos – e deste modo, para a massa, a verdade
se oculta.
Seguem lépidos e faceiros nos
folguedos do Momo, de Caruaru ou onde estão as ditas bases que nunca lhes
colocamos os olhos e, verdade se diga, existem outras rotas que jamais
tomaremos ciência e que estão sob as expensas de quem não perde o senso.
Ora – direis - ouvir estrelas! Perdeste o
senso e eu vos direi: amai para entendê-las, pois só quem ama tem ouvido capaz
de escutar e de entender estrelas, porque elas falam para nós, nos dão alento,
nos tocam a alma e nos fazem humanos, porque a isso nos candidatamos e
percorremos grandes distâncias para vencer, com empenho, até para além do
suportável. Enquanto vocês, reflito, arruinaram o senso de tudo, mas isso logo
muda e seremos felizes, não só porque vocês morrem um pouco a cada dia pelo
nosso olhar, orientado por quem está acima das estrelas e a tudo vê, desde os
nossos sonhos, as nossas esperanças e o nosso amor incondicional e por tantos
que precisam de alento, porque sabemos que só quem ama, respeita o homem e pode
ouvir e entender as estrelas!
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