quinta-feira, 11 de abril de 2019

Marcas



Tentar apagar uma garatuja simplória em seu conceito calado é difícil, não porque a borracha não deu conta do recado, mas pelo fato mais ilusório de que o símbolo não quer ir para outro lugar. Ali, naquele caderno deseja se assentar e, mesmo emudecido o traço afundado necessita cumprir o seu destino com ardor, afinal, não é apenas um risco, é um símbolo com uma importância universal, tendo o poder de esquentar as almas mais sombrias.

A cápsula grafada neste papel significa a alegoria do órgão vital que dá vida a todo ser humano, não fugindo do codinome de ser o fiel depositário das mais variadas emoções, que perpassam nossa alma, nosso cérebro em movimento e até o ar que respiramos.  É nesta simples figura que guardamos nossas emoções e estas, boas ou más vão deixando um séquito de nervuras indeléveis que pautam nosso vai e vem, desde quando o sol surge na beira do mar até quando resolve descansar na serra.

A fama da figura é de enlevo, poesia, suspiros de amor com toda ode de poetas e afins centrados na missão de condicionar todo sentimento ao bombeamento do referido. O cofre com tão delicado desenho vai abarcando os sentimentos de alegria, amor, raiva, tristeza e o que mais lhe aprouver reunindo deste modo conteúdo que possamos discernir o que favorece o que acrescenta, o que redime, o que engrandece.

A tentativa de apagar o desenho borrado feito em um impulso de amor, uma tentativa de lembrar a felicidade perdida, o propósito de tentar desaparecer com algum sentimento refratário que insiste em ali permanecer é absolutamente nula. O coração, por onde anda, deixa marcas.

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