Um é moço e outro é velho, mas o que intriga
são as caminhadas matinais e em finais de tarde, sempre antes de o sol nascer e
depois que se despediu. Eles possuem o mesmo ritmo, parecendo que o cansaço
bateu aos dois provavelmente por diferentes motivos, mas nestes dois tempos em
que se arrastam até a beira do mar a cadência é a mesma com leve discrepância.
O mais moço tem muito vigor, porém, seus
olhos são como faróis baixos que perscrutam incessantemente o caminho a seguir,
pisando com muito cuidado o pedregulho, causando certa surpresa uma vez que
para os jovens, andar depressa sempre é natural, mais não seja pelas pernas
fortes, pela pressa do amanhã, pela urgência de chegar e pelo brio do sangue
quente correndo com pressa no corpo. Visto de longe os ombros pesam, o olhar é
vago e a passada titubeante demonstra que existe alguma coisa de contraditório.
Observando com mais vagar percebe-se que ao invés de o entorno por onde caminha
o circundar e acolher, aparentemente o que se apreende é o contrário. O mundo
se aboletou em sua garupa e o peso transparece fisicamente.
O velho, na contrapartida, pisa sempre firme e
com mais vagar, seus olhos miram o mar que é sempre seu destino todos os dias.
Suas pernas são fracas, mas a pisada é segura, sua cacunda é encarquilhada e
firme, seus braços estão descansados nos bolsos, seu cabelo farfalha ao vento,
não veste nada pesado, seus pés estão livres de quaisquer amarras e mesmo assim
se conservam quentes. O corpo vibra com o ar gelado, se mantendo forte frente
às intempéries que lhe fazem sorrir, porque, afinal, a natureza está em conluio
com seu corpo alquebrado balizando seus pensamentos que certamente possuem a
velocidade da luz.
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