quarta-feira, 17 de abril de 2019

Falta sempre


Volta e meia aparece uma falta contumaz que vai interferindo nos amanheceres da vida como se fosse uma interposição para deixar o momento de agora com indagações sobre assuntos que com certeza se esfarelaram no tempo, se redimiram do seu propósito e viraram nada, se esconderam por vergonha de terem agido desta ou daquela maneira, perpassando tantas situações que o enredo traz certa lassidão, de fato.  

Porém, as marcas estão ali, indeléveis nas nervuras incontestes do coração que reclama uma resposta sincera do amor que se foi sem dizer adeus, do amigo que sumiu do mapa depois de tanto usufruir o seu prestigio, conselho e  companhia, do parente que limou com capricho as barras familiares deixando de lado o protocolo mínimo de convivência, daquela pessoa que ressurgiu nos braços da internet e assim como veio foi, deixando um rastro meteórico que nunca mais irá se apagar, sem falar na dúvida que surge sobre vida e morte, que de certo não avisa quando chega. Talvez o imprevisível aconteça, mas, como saber?

A ausência se apresenta arguciosa, como um perfume que paira no ar sem sabermos sua origem, que confunde a estirpe da fragrância que pode se afundar em nossas lembranças sensoriais e deste jeito bem lúdico apresentar um tabuleiro incrível de fatos passados. Chegam disfarçados e, com frequência, vão modulando a percepção das lacunas no interregno da vida tornando-se, sem querer, fato relevante. A importância dada às faltas contumazes chega como prenúncio de vale de lágrimas que se habilitam a purificar a alma por tudo e por nada.

Nenhum comentário:

Papelaria em dois tempos

  Não sei quem me encontrou primeiro, se aquela papelaria antiga ou eu, que ando gastando a sola do sapato atrás de quinquilharias que lembr...