segunda-feira, 25 de março de 2019

Solstício do outono



A queimação do verão ainda paira no ar quase que em todos os recantos da natureza e um pouco no semblante do povaréu que insiste em ficar por aqui, que resiste em guardar as roupas de praia, que demora em se acostumar que a estação do despir já está começando. De fato, para o praieiro da gema, mudar a indumentária quase não acontece, afinal, o mar está sempre ali e o chinelo de dedo não se aparta de ninguém. O coração está sempre aquecido de amor pela beira do mar e o frio não chega a acontecer.

Os sinais surgem muito discretamente na natureza que, mesmo resistente, vai deixando o desfolhar ocorrer dando um recado para os ventos não ficarem estabanando tudo o que é deixado ao solo uma vez que este estirar-se junto ao tronco é a última homenagem a quem lhe deu a vida, quem lhe fez brotar suas folhas e flores a partir de sua seiva motivadora.

O mais instigante deste tempo de outono que inicia é a paradeira no ar que acontece como se fosse um silêncio reverenciado que se instala dominador desde o alvorecer até o apagar das luzes no céu. A calmaria se espalha pelas ruas entrando nas residências sem que ninguém tenha a coragem de arrulhar no contrapé, de destituir a soberania da natureza que neste momento clama pela caluda.

O período é de deixar cair por terra o que tem seu fim proposto pela estação outonal e assim vai acontecendo, com as folhas que se apartam dos seus troncos e caules vivenciando a transformação da natureza que colore com todos os matizes quantos lhe aprouver, deixando o solo revestido por um lindo tapete natural. O mar, sempre imprevisível, recua em ondas deixando o protagonismo para o solo que aproveita o espaço para receber os coadjuvantes do solstício de outono.

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